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sábado, 27 de junho de 2020

E se a morte entrasse de greve? | Resumo e Resenha: As Intermitências da Morte - Saramago

As Intermitências da Morte se trata de uma epidemia "de não morrer" e todas as suas consequências nacionais. Política, economia, religião e cultura abalados com o sumiço de um fenômeno tão natural, mas também percebido e vivido socialmente. Ora, a morte só queria ser devidamente valorizada. No entanto, ela segue incompreendida, e o autor nos convida para conhecer melhor sua rotina e condições atípicas.

Ler um livro como esse em uma situação de pandemia pode ser tanto perturbador como um ponto de vista diferenciado pra realidade. Para mim, me soou como o segundo caso. Saramago tem um jeito único de escrever, é sabido, e essa leitura que mais parece um fluxo de pensamentos me pareceu um toque de leveza. Isso para não falar do senso de humor irônico do autor.

Bem, não costumo trabalhar com spoilers, mas sendo uma obra tão completa, não vejo como fazer se quer uma breve análise (e um resumo) sem aprofundar nos fatos. Não creio que saber o que acontece no livro vá tirar o poder que é experimentar essa leitura, mas se você acreditar que sim, pule para os últimos parágrafos (talvez no décimo após este) da presente resenha.

Para começar, quando a morte se ausenta por motivos desconhecidos, toda uma nação vai ao delírio. Os que deveriam estar mortos ficam catatônicos e infelizes, os doentes que deveriam morrer não se recuperam, e aqueles que desafiam a morte na tentativa de forçá-la a si, sofrem as consequências em vida.

As instituições são as primeira a entrar em colapso. A começar pela indústria da morte, exemplificada pelas funerárias e seguradoras de vida. Imediatamente as primeiras negociam com o governo para que seja então obrigatório a enterrar devidamente os animais, e as últimas planejam um seguro que funcionam como uma previdência que seria dada a cada 80 anos. Assim, o governo começa então a planejar asilos definitivos, já que a imortalidade não é sinônimo de juventude aqui.

Os religiosos entram também em pane, uma vez que muito de seus fiéis só lhe devotavam devido às garantias no pós-vida. E os filósofos também não ficam menos desesperados, já que o sentido da vida pensado por tantos deixa de ter o significado original, uma vez que esta não lhes parece mais finita.

Mortalidade, Caveira, Vanitas, Memento Mori, Comemorar

Enquanto isso, a sociedade civil enfrenta suas próprias questões. Em uma das casas do país, um velho - no leito de morte que já não vem - tem a ideia de ser levado à fronteira, onde a greve da morte já não alcança. Sua ideia se mostra efetiva, e é natural que logo várias famílias tenham a mesma.

Inicia-se assim dois processos. No primeiro, uma maphia (com ph) surge para fazer o "trabalho sujo" de levar os futuros mortos à fronteira, ganhando pequenas fortunas por isso. No outro, os países fronteiriços ameaçam iniciar uma guerra, uma vez que seus territórios não são cemitérios. A maphia então deixa de enterrá-los do outro lado e realiza acordos com o governo e as funerárias, que passam a voltar a enterrar esses mortos. Este último fenômeno se mostra alarmante socialmente, já que as vizinhanças começam a julgar umas as outras por escolher deixarem seus mortos morrerem, encarando como um assassinato.

De uma forma ou de outra, a nação acaba por se adaptar em sete meses à ausência da morte. Esta última, no entanto, retorna com ares espetaculares com uma carta aberta a ser lida em rede nacional, alegando que sua intermitência foi por uma questão de valorização, e que agora retornará com a bondade ainda de avisar a todos os futuros mortos com uma semana de antecedência para que tenham tempo de organizar o fim de suas vidas.

A pobre morte, no entanto, muito longe de ser valorizada, agora é ainda mais rechaçada. Se antes imploravam para que voltasse, agora lhe achavam especialmente cruel. Ao invés de ajeitarem a vida, aqueles que recebiam as cartas se desesperavam, desacreditam, faziam tudo o que não fizeram a vida toda, e até mesmo tentavam adiantá-la. Mas a morte seguia seu trabalho sem muito se afetar com os rompantes sociais.

Livros Antigos, Livro, Antigo, Biblioteca, Educação

Até que um dia uma carta retorna, não apenas uma, mas duas vezes. Ora, isso nunca aconteceu. Ela resolve então averiguar o que aconteceu e se depara com um homem comum de vida tediosa. Um violoncelista que vivia só com seu cachorro havia escapado da data da morte. Ela então faz de tripas coração - ou de esqueleto, carne - para tentar resolver a situação e passa a acompanhá-lo em sua vida. Então, um dia ela se despede temporariamente de seu claustro e sua gadanha, "veste-se" de mulher viva  e resolve sondá-lo para conseguir, enfim, entregar a carta.

No entanto, com suas aparições e afirmações enigmáticas do tipo "eu tenho algo para você", "não pode escapar de mim" e "eu o conheço melhor que ninguém", o violoncelista se pega em inseguranças, questionamentos e, quem diria, em flerte. No dia em que enfim a carta seria entregue, a morte deixa-se levar por ter "todo o tempo do mundo" e se pega em conversas, demonstrações musicais e em uma noite de amor. E mais uma vez, ninguém morre no outro dia.

Cessando o resumo, concluo afirmando que o enredo é uma obra completa. Até o meio da narrativa estranhei o fato de não termos um personagem principal fixo, apenas alguns que serviam para ilustrar as nuances da história. Então, percebo a morte (com letra minúscula por solicitação da mesma) como uma protagonista muito humilde, que está por toda parte, mas não requisita primeira pessoa ou holofotes. Por fim, finalmente compreendi as motivações das ausências e destaques temporários dos personagens.

A questão é que a morte é mais humana que as próprias instituições da humanidade.


Enquanto o governo e as religiões se preocupa com poder, as empresas e máfias com o dinheiro, os filósofos com a detenção do conhecimento e a sociedade com suas reputações, a morte preocupava-se com a vida. Queria o reconhecimento merecido e realizar seu trabalho em paz. A morte vivia o tédio de uma existência quase humana no circuito profissional e se reconheceu ternamente em um homem comum que lhe fugiu das garras. A morte apaixona-se por sua própria humanidade refletida na vida.

Tudo isso contado de uma forma não necessariamente linear, é de uma poesia encantadora. Embora não seja tão relevante como Ensaio sobre a Cegueira, As Intermitências da Morte me pegou pelo coração. E embora essa nem e quer tenha sido a interpretação do autor, a minha acabou por me conquistar. Saramago tem uma leitura ampliada do que é a morte em nossa sociedade em termos materiais e abstratos. Eis mais um livro da série Leitura Obrigatória segundo eu mesma.

terça-feira, 9 de junho de 2020

TBR da Maratona Literária de Inverno 2020 | #MLI2020 #BKTBTN


  Como de praxe, eis-me aqui toda maratoneira como todos os anos. Esse ano a maratona vai de 20 de Junho a 4 de Julho, e, como sempre, é promovida pelo Geek Freak. Além disso, essa edição será uma Booktubatona, com mais 27 booktubers. Cada um deles propôs um desafio para que escolhêssemos, e é a partir de alguns deles que venho aqui apresentar minha TBR.

Um Livro que Faça Parte de Uma Série (Bárbara Sá)

A Parábola do Semeador - Octavia E. Butler

Muito saudosa da autora desde que li Kindred (que já tem resenha aqui no blog), vou iniciar a leitura dos três livros da série nesta maratona, na esperança de conhecer um pouco mais sobre a autora.

Um Livro em Inglês (Vá Ler um Livro)

Condição Pós-Moderna - David Harvey

Esse tem rendido leitura já faz tempo, e espero que a maratona me dê o fôlego que preciso pra terminar a obra.


Um Livro Recomendado por um Booktuber (All About That Book)

Para Ler como um Escritor - Francine Prose

Esse já tinha entrado em maratona literário e foi intocado, tadinho. Já está tanto tempo nas minhas metas para ler que já até esqueci em que canal eu o vi ser recomendado. Vamos ver se dessa vez vai, uma vez que agora sim me declaro oficialmente escritora.

Um Livro Encalhado na Estante (Palavras Radioativas)

Criatividade e Grupos Criativos - Domenico de Masi

Calhamaço que não tenho nem esperanças de terminar durante a maratona, mas quem sabe avançar consideravelmente na leitura.

Um Livro de Realismo Mágico (Luckyficious)

As Intermitências da Morte - Saramago

Embora o realismo mágico me lembre imediatamente América Latina, abri mão dessa vez para conhecer um pouco mais da obra tão bem falada de Saramago.


  Bem, estou curiosa para saber como será o andamento dessa Booktubatona, que epero que seja recheada de sprints e interações!


sábado, 30 de maio de 2020

Kindred: Laços de Sangue - Octavia E. Butler | Resenha

  Se temos uma obra fantástica, é porque sua autora tem muito a falar. Octavia Butler foi uma escritora negra estadunidense que marcou sua geração, mesmo que só venha sendo reconhecida mais recentemente no Brasil com as novas edições de suas obras e divulgação de leitores que há tempos esperavam por sua popularização. Seu projeto de escrita envolvia uma ficção-científica feminista e racializada, trazendo à tona elementos que os escritores de sua época não consideravam, voltados para às inteligências artificiais, por exemplo. Suas discussões sobre o racismo e processos de exclusão são pertinentes até hoje e muitos de seus leitores debatem se não cabe enquadrar suas obras no movimento afrofuturista - tentando resumir essa manifestação artística enorme, uma filosofia e estética cultural que abarca uma ficção afrocentrada.

  Agora então voltando-se para o livro, Kindred: Laço de Sangue fala sobre uma série de eventos misteriosos na vida de Dana, uma mulher negra que acaba de se mudar com seu marido também escritor. Em certo momento, Dana sai dos seus conhecidos anos 70 e volta ao passado, um passado especificamente cruel para ela e sua ancestralidade: os mesmos Estados Unidos, porém em uma Maryland escravista do século XIX pré-Guerra Civil.

  Os personagens são tão bem construídos que ler os tantos pensamentos de Dana permitiu uma aproximação muito grande entre leitora e personagem, mesmo que nossas histórias e realidades sejam tão distantes. Suas dores são sentidas de forma tão intensa que eu me via encolhendo meu corpo em cada momento de sofrimento seu. É possível ainda entender a mentalidade de outros personagens, como de Ruffus, por exemplo, mesmo que ainda assim não seja possível defender seu posicionamento, muito pelo contrário.

  As relações entre os personagens também é muito forte. Vê-se as diferenças de um relacionamento inter-racial tanto em um contexto mais próximo à contemporaneidade, quanto em um passado distante. É possível observar também as relações de poder estabelecidas entre homens e mulheres, e ainda mais entre brancos e negros. A permanência de pensamentos coloniais, machistas e racistas é uma chaga viva em nossa sociedade, e esse livro traz isso à tona de forma muito impactante. Destaco ainda a força da ancestralidade de Dana ao ver-se tão igual e diferente às mulheres de sua família.

 
  Os motivos para seu retorno no tempo e a sucessão dos acontecimentos deixam o leitor extremamente ávido para saber mais sobre a história, e por esse motivo terminei a leitura muito rapidamente. E ainda assim, por muito tempo a narrativa me rondou a cabeça, é forte demais para ser esquecido.

  A escrita de Octavia é bem construída, fluida apesar de temas difíceis de serem trabalhados, forte e necessária. Pretendo inclusive ler a trilogia da Parábola do Semeador para conhecer melhor a sua obra. Sendo assim, fica explícito que Kindred é um livro impecável e de leitura muitíssimo recomendada.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Conclusão da Maratona Literária do Isolamento | Instensivão #MaratonaImprovisada



  Para a maioria dos participantes, apesar de curtinha, essa não foi uma maratona fácil. Todos pareciam muito dispersos, e a ansiedade com o que está acontecendo certamente atrapalhou muitos leitores.
  Ainda assim, consegui cumprir quase todas as etas e ainda um pouco mais, sendo absolutamente todas as leituras escolhidas agradáveis. Deixo aqui então um feedback rápido e uma sugestão de leitura sobre todas elas!

1) Continuar ou terminar uma série ou trilogia

Consegui concluir a leitura de Cavernas de Aço do Asimov e me surpreendi muito positivamente - ainda que não seja surpresa pra ninguém eu adorar uma distopia. Falaria muito mais sobre o livro aqui, mas pretendo trazer uma resenha em breve! Por enquanto digo apenas que com certeza gostaria de conhecer mais do trabalho do autor.

2) Um livro curtinho ou rápido, pra engordar a meta e 3) Um livro que ouviu falar muito bem sobre 

  A ideia inicial era ler Sono do Murakami, mas só consegui iniciar a leitura no último dia da maratona. Ainda assim, como o livro é curtinho, muito em breve devo finalizá-lo. Posso adiantar no entanto que o fluxo de pensamentos é um guia na obra do autor e é uma leitura poética, mas muito natural, com elementos de um realismo fantástico, mais pro realista que pra fantasia.

4) Ler um livro no kindle / leitor digital / dispositivo eletrônico

  Dando conta da categoria anterior de livro rápido e ainda assim no kindle, li 1940: O Lugar do Outro (pela milésima vez, mas nunca é demais). Sou suspeita pra falar sobre, mas é recomendação na certa.
  Além disso, também terminei de ler 17 Contradições e o Fim do Capitalismo, conforme a meta e o livro foi um pouco mais tranquilo de ler do que imaginava!


  Bem, esses foram os livros lidos! Espero que em uma próxima maratona os ânimos possam estar mais brandos, mas que as leituras possam ser tão boas quanto nessa! E vocês tem lido um bocado nesse período de isolamento ou tem sido complicado também?


quarta-feira, 1 de abril de 2020

3 Passos para Transformar sua Fanfic em uma História Original


 Não é de hoje que fanfics de séries de livros e filmes aclamadas se tornam livros completamente novos e de sucesso no mercado editorial. E muitas vezes temos uma história incrível em mãos, mas que precisa de um pequeno pontapé para atingir a originalidade sonhada. E é por isso que venho aqui passar umas dicas pra que essa adaptação seja possível.

1. Personagens

  Muitas vezes a personalidade de um personagem nos encanta e acaba nos inspirando a escrever mais sobre ele, gerando uma senhora fanfic. No entanto, não necessariamente o seu personagem precisa ser idêntico à obra que te inspirou. Inclusive, é possível que no meio da sua história você tenha lhe desenvolvido ainda mais e percebido e acrescentado características diferenciadas em sua personalidade. Portanto, invista nisso para tornar seu personagem único.
  E por falar em único, escolha um nome icônico. Ainda mais para seu protagonista, um nome marcante e diferente do que lhe inspirou - inspiração não pode ser cópia, lembre-se disso - pode fazer toda a diferença.


2. Universo

  Se a sua história se passa num universo fantástico, certamente teremos um pouco mais de trabalho. Isto acontece porque o autor que lhe inspirou certamente teve muito trabalho para criar um mundo único, com criaturas que podem até se repetir em outros livros, mas com especificidades. Se você ainda desejar fazer sua história se passar em um universo fantástico, você terá o mesmo trabalho que ele. Pense em novas criaturas, novos ambientes, nomeie-lhes com um senso de identidade que fará os seus leitores associarem imediatamente à sua história. Tenha um arquivo só para anotar sobre os elementos do seu Universo, é importante que ele seja coerente e ter uma base para consultar pode ser a chave para isso.
  Se a história se passa no mundo real, a situação já fica mais fácil. Ainda assim, seja criativo e procure novos espaços para locar os cenários de sua história.

3. Enredo

  É aqui que mora o grande segredo. Se você tem uma fanfic é porque certamente você criou uma história interessante com os personagens minimamente cativantes em um universo que te agrada correto? Adaptados esses últimos elementos, a sua história ainda tem originalidade? A tendência é que a resposta seja sim, porque acredito que o fanfiqueiro dá conta do que o autor original deixou a desejar. No entanto, se a resposta for não, é interessante que se responda algumas perguntas como por exemplo:

  • Quais as diferenças entre a minha história e à que me inspirou?
  • Qual o  objetivo central desse enredo?
  • A minha história faz sentido em um contexto diferente do que ele foi inspirado?
  • O que posso oferecer de diferente e original com a minha história?

  Respondendo essas perguntas e incrementando sua história, acredito que certamente você terá uma original de respeito. Depois que fizer suas alterações, não esqueça de me recomendar nos comentários!


quarta-feira, 25 de março de 2020

Resenha do Jogo Hey Love! Nora's Mystery

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  Depois do bem sucedido Hey Love! Adam, o estúdio Nut Nut enfim lançou Hey Love Nora. O novo jogo de escolhas para mobile conta com a mesma estrutura de mensagem que conquistou jogadores anteriormente, mas conta com um enredo bem mais elaborado e cativante desta vez, o que fez superar o jogo anterior.

  Hey Love Nora conta sobre três amigos que investigam o desaparecimento de uma de suas colegas de classe, Nora. Evidentemente, suas vidas amorosas e escolares se misturam com os acontecimentos e é difícil escolher em quem confiar, o que torna tudo ainda mais emocionante.

  Possui 34 capítulos, sendo liberado um por dia a menos que você invista moedas para adiantar um capítulo. No entanto, recomendo que faça um de cada vez, assim a história e o suspense rendem mais, e o envolvimento com o jogo é ainda maior. Este último é garantido pelo fato de os personagens são realistas e cativantes, dando a impressão que no final das contas você é mesmo amiga da Lila e Joshua, assim como também dos outros. Tim e Kylian também são interesses amorosos muito mais coerentes que o Adam e as outras opção do jogo anterior, por exemplo. Inclusive, escolher entre os dois é relativamente complicado, mas acabei muito contente com minha escolha no final.

  O desenrolar do mistério tende a arrastar um pouco no meio do jogo, mas conforme as dúvidas vão sendo respondidas, tudo fica muito coeso. Eu só gostaria que a personagem interativa (você ou eu, no caso) tivesse mais ação no clímax final, mas isso é um desejo também da própria personagem, afinal.

  Enfim, é um jogo muito divertido, simples e imersivo, e certamente é uma recomendação! Inclusive, boa sorte quando terminar o jogo porque logo você vai sentir saudade do jogo e dos sons muito satisfatórios das mensagens.

domingo, 22 de março de 2020

Thanos é Neomalthusiano? | Teorias Populacionais e Entretenimento


Thanos, Guante, Quadrinhos, Manopla, Vingadores
Thanos é Neomalthusiano?

  Assim como a teoria de Malthus dizia que os desastres eram favoráveis pra equilibrar a população (que cresceria em PG) e sua necessidade de alimentos (que cresceriam em PA), Thanos sugere que metade da população terráquea (futuramente universal) evapore para que as coisas fiquem melhores e equilibradas. Bem, em determinados momentos do filme o argumento dele até que cola, não é mesmo? Principalmente quando ele se aposenta na sua casinha de Shrek. Mas parece inaceitável quando vemos nossos personagens favoritos virarem pó. Isto mostra que não é inconcebível muitas pessoas terem acreditado nessa teoria na época, devido aos argumentos cientificamente estruturados (além de Malthus não se resumir apenas a esta teoria). Além disso, também fala muito sobre pensar a Geografia da População: se pensarmos em números, mesmo no contexto atual, a teoria pode fazer algum sentido. Mas se pensarmos em individualidades, toda perda de vida é irreparável.

  Talvez o Thanos nem seja tão malthusiano assim se considerarmos que o sumiço generalizado era aleatório, não se baseava na miséria (apenas no desastre do estalar de dedos). Seria possível falar em um Thanos neomalthusiano? Bem, com a teoria neomalthusiana, percebe-se que já há tecnologia para aumentar a produção de alimentos. Ainda assim esses teóricos pensam o aumento populacional como a causa dos problemas sociais, sendo sua proposta que haja controle familiar. Certamente o Thanos controla a sua família, vide Gamora e Nebula, mas não acho que era sobre isso que ele estava falando em relação a Terra...

  Surge então os reformistas, que entendem que esses problemas como consequência, e não como causa do aumento populacional. Portanto, o problema da alimentação é uma questão de má distribuição e desperdício. Sendo assim, seria mais interessante que houvesse a busca pela qualidade de vida, através das melhorias em saúde e educação, que por si só gerariam interesse populacional em planejamento familiar. Seriam os vingadores então reformistas? Bem, embora eles não falem deste planejamento, eles querem que a população fique em paz. O que vocês acham?

  Enfim, tudo isto é questionável, mas quem sabe os roteiristas não tiveram um pouco de inspiração nas teorias? O que trago para vocês aqui é a possibilidade de pensar os estudos e o mundo através do entretenimento. Já dizia Cosgrove, a Geografia está por toda parte.

terça-feira, 17 de março de 2020

Maratona Literária do Isolamento | Instensivão #MaratonaImprovisada


  Assim que as aulas foram canceladas e o isolamento social se tornou a escolha mais sábia nesse tempo de crise da saúde, já me encontrei reivindicando uma maratona literária. Afinal, ler em conjunto é muito melhor e interação virtual está permitidíssimo. E então, Victor que nunca nos decepciona lançou a #MaratonaImprovisada dos dias 21 a 31 de Março. Para mais informações, não deixa de ver o vídeo dele.
  Com isso dito, vamos à TBR a partir dos desafios.

1) Continuar ou terminar uma série ou trilogia

  E por que não, começar? Sim, como sempre já começo na "trapaça". Pretendo iniciar As Cavernas de Aço de Asimov!

2) Um livro curtinho ou rápido, pra engordar a meta e 3) Um livro que ouviu falar muito bem sobre 

  Vou adiantar a leitura do Desafio Liberdade Literária Volta ao Mundo que será Sono do Murakami, que tme pouco mais de 100 páginas. Além disso, já tem um tempo que ouço falar muito bem do autor e só li uma obra dele já faz um tempo. Já é hora de conhecer o famoso Sono.

4) Ler um livro no kindle / leitor digital / dispositivo eletrônico

E pra não falar que não falei de livro acadêmico, vamos de 17 Contradições e o Fim do Capitalismo de David Harvey para me ajudar nas leituras para as provas de mestrado.

  Bem, gente, infelizmente, o isolamento ainda é um privilégio (embora seja uma das medidas mais eficazes de conter a propagação do corona), e aqueles que o têm realmente deveriam colaborar. Espero assim que seja positivo de alguma forma pelo menos nas leituras e afazeres, e que passe o mais rápido possível para que logo possamos voltar às nossas vidas saudáveis e normais. De todo modo, uma boa maratona para todos e até logo!



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Diário de Leitura de As Brumas de Avalon | Parte 2



17 de Janeiro de 2020

  Em O Gamo-Rei, a história vai admitindo um caráter de maior complexidade à medida em que os personagens vão se espalhando pelo mapa - que aliás poderia estar incluído na edição para ajudar na visualização. Este é um fator que vai lembrando a sensação que tive lendo As Crônicas de Gelo e Fogo, cujos livro só haviam me remetido anteriormente na personalidade de Sansa e de Gwenhwyfar. Há inclusive momentos do desenvolvimento da personagem até muito parecidos, no entanto, quem diria, a Sansa acabou se desenvolvendo melhor na outra série de livros. No entanto, ainda assim, compreendo melhor a personagem arturiana.

20 de Janeiro de 2020

  Esse se mostra um livro mais impactante que o anterior, embora  desenrolar de seus momentos  mais emocionantes sejam consequência do anterior. Cenas fortíssimas de abalar o coração de quem já se envolveu com os personagens, com direito a reações físicas, isto é, arfadas e lágrimas.

21 de Janeiro de 2020

  Morgana lida com uma culpa muito realista por ter deixado Avalon para trás, ainda que este esteja sempre em seu coração. Ela o defende melhor que o novo Merlim, que acaba conquistando sua frustração e a minha também. Afinal, suas decisões em relação a Viviane muito me decepcionaram e mostraram finalmente os defeitos de Artur que eu, cegamente, não tinha reparado antes. Artur no anseio de fazer a todos felizes, esquece-se de si, cede demais, principalmente a Gwenhwyfar e aos padres. Além disso, a verdade vêm finalmente à tona, o que é intrigante, mas Artur acaba não tomando nenhuma posição que partisse realmente de si.

23 de Janeiro de 2020

  Depois de tantos anos com uma submissão camuflada de vontade aos homens e às cortes supérfluas, Morgana finalmente se dá conta de sua importância enquanto sacerdotisa, da posição que lhe espera como Senhora do Lago. Não via a hora de isso acontecer.

26 de Janeiro de 2020

  É para mim muito interessante ver como os personagens envelheceram e, mais que isso, amadureceram. Até os mais insuportáveis para mim, agora são mais razoáveis. Sempre me encanta muito a ideia de "crescer com o personagem", ainda mais quando tudo é feito de forma tão verossimilhante.

Espada, História, Cavaleiro, Armas, Armadura, Guerreiro

29 de Janeiro de 2020

  Me mostro uma leitora completamente parcial, acabo me colocando do lado de Morgana em todas as circunstâncias. Suas triszetas e frustrações me entristecem igualmente, e suas reviravoltas me enchem de esperança.


1 de Fevereiro de 2020

  O livro começa a se mostrar bastante surpreendente e a quebra de expectativa é real. Conforme o último livro chega, uma certa melancolia de que já estamos chegando no fim começa a se abater(melancolia esta que também afeta aos personagens).

4 de Fevereiro de 2020

  Com a aparição do Graal, os últimos elementos da saga arturiana vem se desenrolando. Aparece com uma perspectiva muito interessante, reafirmando o que o antigo Merlim, Taliesin, costumava dizer sobre os deuses.

7 de Fevereiro de 2020

  A insanidade cai bem em Lancelote, que começa a agir de uma forma que eu simpatize com ele (a estranha então não seria eu?). Assim como a maturidade começa a cair bem em Gwenhwyfar que finalmente começa a questionar certos pensamentos e agir mais, embora que nem tudo (muito pouco na verdade) dê para defender.

11 de Fevereiro de 2020

  Mordred se mostra uma criatura muito ambiciosa, calculista, pela criação recebida por Morgause, sim, mas também por si mesmo. Assim como Morgana se perguntava como tudo seria se tivesse usado seu filho como trunfo, me pergunto como seria se o menino tivesse mais contato com ela e com o pai. Acaba que Morgana repete as mesmas questões de maternidade com ele que Viviane tinha com Lancelote. Este, no entanto, jamais se rebelou ou agiu tão inconsequente até mesmo com quem amava, como esse fez com Niniane.

19 de Fevereiro de 2020

  O encerramento foi uma enorme tragédia, muito honrada para não dizer digna, embora seja apenas uma questão de vocabulários. Embora eu não pudesse esperar algo diferente, já que tudo nos trouxe até aqui, no fundo sempre esperamos o melhor pros personagens que há tanto nos acompanharam.

  Bem, encerrar estes livros me dá uma verdadeira sensação de novo ciclo, embora eu não saiba o que isso quer dizer. As discussões religiosas e filosóficas são absolutamente enriquecedoras e é um livro transformador. Um dos melhores livros da minha vida.
  Em breve espero poder ler os livros da sequência e aprimorar este formato de diário de leitura.


segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Conclusão da Maratona Literária de Verão 2020 #MLV2020 #MLVMística

  E como foi a maratona anterior de um mês um mar de rosas, não poderia ser o mesmo a logo em seguida com apenas duas semanas. Marcada por uma leve ressaca literária e sem o fôlego extra de terminar pelo final de ano, tive uma maratona de verão um pouco mais devagar. De saldo de leitura tivemos dois livros lidos, sendo um deles uma troca de TBR, dois livros postos em andamento, e um nem tocado. No entanto, ainda assim, o saldo foi positivo, convenhamos.

Temperança - Um livro de fantasia ou com elementos mágicos

  Terminei o segundo livro e acabei passando da metade de O Gamo Rei, mas, por se tratar de volume único, acabei não dando como finalizada a leitura de As Brumas de Avalon. No entanto, esta não era a minha intenção inicial, e, inclusive, quando terminar de ler não sei o que vou fazer da minha vida.

A Torre - Leitura livre! Pode escolher qualquer livro

  Primeira leitura  terminada da maratona, dei conta de Desenvolvimento Desigual de Neil Smith. Agora é estudar as anotações.

O Sol - Um livro que todos falam bem;

  Essa foi uma das leituras que resolvi trocar na TBR, saindo de Todos os Contos de Clarice Lispector para O Auto da Compadecida de Ariano Suassuna. Foi uma das escolhas mais espertas que fiz uma vez que a diferença de densidade dos livros me permitiu concluir a leitura e ainda dar conta do desafio de janeiro do Desafio Literário da Liberdade. O hype com o filme transformado em minissérie e exibido esse mês acabou por despertar a minha curiosidade, fazendo-me dar boas risadas e ter excelentes reflexões a partir da mais que recomendada obra de Suassuna.

O Julgamento - Um livro de um gênero que você leu pouco, mas se interessou por mais

  Esse foi o mais completo flop, uma vez que nem mesmo consegui começar a ler Para Ler Como um Escritor que provavelmente ficará para o início de fevereiro.

O Mundo - Um livro que era pra ter lido em 2019, mas não deu tempo

  Com essa decidi não mais inserir Canto Geral em TBR de maratonas literárias uma vez que suas poesias são muito densas. Passei da metade deste, no entanto.

Bem, como sempre, já estou no aguardo da próxima que muito provavelmente será no carnaval e dificilmente terei tempo pra pegar algo pra ler. Então, talvez, seja até possível que eu tente fazer algo antes, vamos vendo. Bem, espero que vocês tenham aproveitado basteante a maratona, mais do que eu, temos de convir! E até a próxima!


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Diário de Leitura de As Brumas de Avalon | Parte 1


  Lembro-me perfeitamente de ter lido o primeiro livro pela primeira vez há uns seis anos atrás pela biblioteca da escola e ter tido essa sensação de que minha vida nunca mais seria a mesma, uma vez que tinha encontrado um dos meus livros favoritos da vida. Infelizmente, nunca encontrei os outros a preço acessível nem em outras bibliotecas, então segui esperando pelo momento ideal. Finalmente ele chegou e consegui comprar o volume único em ebook pela Editora Planeta e tem sido novamente uma das melhores leituras da vida. Gostaria então de deixar aqui registrado minhas segundas e primeiras impressões.

17 de Dezembro de  2019

  Comecei a reler o primeiro livro com todo o fôlego que só a nostalgia pode trazer em plena maratona literária. Me impressiono muito por ainda lembrar de todos os acontecimentos importantes da primeira história, mas os detalhes me fascinam novamente!


19 de Dezembro de  2019

  Muito me surpreende como lembrava de Igraine como uma mulher fútil, mas eu tinha 15 anos e agora tenho 21, mais velha que ela no livro com 19 e agora a compreendo melhor. Se sentir manipulada, sem escolhas, não é algo fácil e ela encontrou sua própria maneira de lidar com isso. Além disso, seu romance com Uther, embora se dê propriamente em poucos momentos, me é muito cativante. Apesar disso, ela é ainda assim uma mulher influenciável, mas algo minimamente compreensível.

21 de Dezembro de 2019

  Viviane e Morgana são personagens fascinantes, indiscutível. Que mais poderíamos esperar das mulheres de Avalon? Acho interessantíssimo a relação mulher de carne e osso e Deusa sublime, e como é difícil possuir as duas faces dentro de si. Todas as vezes que elas se sentem feias e cansadas, sinto-me confusa, pois que as vejo mais lindas que todas as outras.

25 de Dezembro de 2019

  É meio engraçado pra mim ler algo que tem suas ressalvas com o cristianismo em pleno Natal, mas ora esta época já era o Yule dos pagãos do Hemisfério Norte e as tradições se misturaram. Como já diz a obra, todos os Deuses são Um.


30 de Dezembro de 2019

  Encerro finalmente a releitura do primeiro livro e me surpreendo, pois que não lembrava que o final era assim! Nossa mente nos prega peças... Finalmente começo o próximo livro na esperança de que seja uma boa leitura tanto quanto o primeiro. Fico meio desconfiada, uma vez que com a entrada de Gwenhwyfar há a tendência que as coisas fiquem mais voltadas para a realeza e seus palacetes, ao invés da teologia de Morgana. Mas como esta última continua a demonstrar presença no livro, acredito que pode ser apenas uma impressão boba minha.

03 de Janeiro de 2020

  Apesar de Gwenhwyfar se mostrar mais madura com o tempo, sua construção de personagem não foi desenvolvida nada perto de Morgana que continua tendo o estrelato do livro mesmo quando não está presente de fato. A rainha de Artur parece bastante rasa e entediante boa parte do tempo. Suas decisões são egoístas e infantis, colocando em risco o reino e as populações por uma série de palavras religiosas que ela repete sem questionar.

15 de Janeiro de 2020

  Igraine teve sua redenção final a meu ver, e mostrou que sua mente é mais poderosa do que imaginavamos.
 O ranço - na falta de palavra melhor - com Lancelote só aumenta e seu romance platônico com a Gwenhwyfar se motra muito improvável, pouco convincente e chato.
  Enquanto isso, Artur segue sendo perfeito e intocável, mas sem aprofundamentos da autora em relação a ele. Ora, a história é sobre aos mulheres ao redor de Artur, ele já teve estrelato demais. Ainda assim sinto falta de espaço para que ele mostre também os seus defeitos e dê mais veracidade ao personagem.
  Com o fim do segundo livro, vamos ver para onde vão os rumos da história.



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