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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

13 de janeiro de 2016.

trefoiled:
“  Spencer Isitt
”


 
  Era uma tarde de quarta-feira. Havia saído mais cedo do teatro, já na intenção de passar no apartamento e fazer as malas. Ao conversar com Carina e Matheus e me expor como nunca antes, percebi que, de fato, eu não podia mais continuar vivendo daquele jeito. É estranho como às vezes a gente se convence com a opinião de novos conhecidos e ignora a de velhos amigos e a de nós mesmos. A gente tem essa falsa impressão de que uma possível imparcialidade é mais sábia.
  Com a chave na porta do apartamento que eu conhecia há menos de um mês, eu confesso que sentia algum tipo de esperança. Abri a porta e, para minha surpresa, a televisão estava ligada e exibia um show de uma banda de rock. Ele estava em casa. Ao ouvir o barulho da porta, Hugo apareceu vindo da cozinha.
  - Ana? Pra onde você foi?
  Não tinha a intenção de responder, mas antes que eu reagisse, a mãe de Hugo aparecera.
  - Sara. - assenti com a cabeça, em um cumprimento forçado. Ela não gostava de mim e isso me obrigava a evitar o máximo de contato com ela.
  - Ela não dormiu aqui hoje? - perguntou para o filho como se eu não estivesse lá. - Eu sabia que um dia essa garota podia aparecer grávida, mas se não for filho seu, aí já é demais.
  Eu estava cansada demais para me calar dessa vez.
  - A senhora não se preocupa não, dona Sara, que hoje mesmo eu vou embora. Vê se arruma uma mulher melhor pra ele.
  Fui até o quarto e tranquei a porta.
  - É o melhor que você faz pra ele, minha filha. E quem sabe faz até um bem pra você também. Vê se encontra um rumo pra essa sua vida! - meu coração já estava partido e a cada palavra que proferiam meu sofrimento aumentava.
  Peguei a mala velha de pano que eu usara para a mudança anterior e joguei meus pertences essenciais. Eu não tinha muita coisa pra chamar de minha, mas havia enchido a bolsa.
  Eu ouvia Hugo discutir com a mãe do lado de fora, mas eu me esforçava para ignorá-los e focar apenas em meu trabalho. Ouço um barulho da porta e deduzo que ela havia ido embora.
  - Ana, você não pode ir embora! - ele bate na porta, mas não repondo.
 Deixava algumas coisas para trás, mas eu não me importava de nunca mais voltar a vê-las. Não pretendia voltar, era um caminho sem volta.
  Abro a porta e sem olhar para ele atravesso a sala. Eu tinha medo do que podia acontecer, mas não podia permanecer acorrentada. Ele mesmo havia dado a deixa para as mudanças, agora tinha que lidar com as consequências.
  - Você sabe muito bem porque estou indo. Por favor, Não me procure mais.
  Ele segurou meu pulso, mas com um puxão, soltei-me e praticamente corri para fora do local. Andares abaixo, porta de prédio agora. Lá fora estava frio, mas o céu estava claro. A luz que entrava em meus olhos não me cegava, ela parecia deixar claro tudo o que mudaria. Minha vida estava pela metade, mas quando ela se completasse novamente, ela não dependeria de mais ninguém além de mim.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

12 de janeiro de 2016.


Um lápis e uma folha de papel.
Mais uma tentativa.
Sinto os dias como sobreposições.
Esforço-me para ver a vida em tons de rosa,
Mas tudo se intensifica e se torna vermelho.
Sou o chão riscado por onde pisa.
As notas do piano são gentis,
Mas as cordas do violino me envolvem como um laço suicida.
Visto luto.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Dois Filmes para Chorar

Imagem de little boy movie

 

Little Boy

  A história é sobre um pequeno menino que tem uma enorme amizade com seu pai. Quando ele é recrutado para a segunda guerra mundial, o garoto então usa seus super poderes e uma lista de afazeres para trazer seu pai de volta com o poder de sua fé e esperança.
  Situado em uma pequena cidade, o filme tem um grande poder de inserção, tornando possível empatia com os personagens e convencimento até de que poderia ser uma história real. O elenco torna tudo mais maravilhoso e o ritmo do filme é ótimo. No início, o expectador dá risadas e sente um calor no peito de saudades da infância, e no final, aí sim, as lágrimas veem e as emoções são como ondas que vêm e voltam.




Imagem de movie, love, and eddie redmayneA Teoria de Tudo

  Confesso que eu estava com certo preconceito em relação a esse filme e por isso adiei tanto. Já havia visto um excelente documentário da BBC sobre a vida de Hawking e estava duvidando bastante do potencial dessa produção cinematográfica. Mas a verdade é que quando fui de fato assisti-la, a impressão que tive foi totalmente outra.
  A biografia perpassa por todas as instâncias de sua vida: a universidade, o trabalho, o casamento, a amizade, a família. Mas, sejamos verdadeiros, o enfoque é a vida amorosa dele com Jane, o que já era de se esperar, já que o filme é baseado no livro de autoria dela.
  Afirmo de antemão que havia subestimado o potencial de Eddie Redmayne, que deu um show de atuação, juntamente com Felicity Jones e Charlie Cox. Outro elemento que me chamou muito a atenção foi a beleza das cenas devido ao excelente trabalho de fotografia.
  Pelo menos para mim, não foi um filme para morrer de chorar - como o recomendado anteriormente -, mas para encher os olhos de lágrimas, para reensinar a valorizar e para conceder novo fôlego.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Breve Ensaio sobre Violência e Justiça na Obra Infância de Graciliano Ramos

  Antes de começar: pequenos esclarecimentos. Encontrei no meu computador esse trabalho que fiz no ensino médio, e ainda que não seja algo devidamente acadêmico cheio das normas da ABNT, é fruto do esforço de uma secundarista que estava encantada com os livros sobre o sertão brasileiro. Espero que seja útil para sua pesquisa e/ou curiosidade.

Autoria: Maria Clara L.


Resumo: Ensaio que objetiva analisar os possíveis motivos e reflexos da violência e os conceitos de justiça atribuídos pelo narrador-personagem durante a obra Infância de Graciliano Ramos. Tais temas serão expostos de forma embasada principalmente no conteúdo do livro, mas também de algumas outras fontes com temática associada.

1.      Introdução
 
O tema “Violência e Justiça na Obra Infância” foi selecionado devido a sua importância no desenvolvimento da narrativa e dos personagens, além de favorecer observações em outras obras do mesmo autor e refletir sobre esses aspectos também em casos de cotidianidade.
A partir da leitura integral do texto de Infância é possível notar o quão cíclica e habitualmente a violência é percebida pela maioria dos personagens desse contexto social. Também fica claro a insegurança do narrador-personagem em relação ao seu comportamento diante de fatores violentos, já que se diferencia das maiorias, e também às noções de justiça empenhadas pelas pessoas ao seu redor.
São objetos de análise todos os castigos e agressões de cunho físico ou moral, além das opiniões do narrador sobre os aspectos abordados. Para um aprofundamento mais eficiente, essas abordagens estarão enfocadas nos personagens do romance: atos de violência e concepções de justiça nos quais estão respectivamente envolvidos.
 
 
2.      Desenvolvimento
 
2.1- Conceitos de “Violência” e “Justiça” de Acordo com Bases Atuais
 
Segundo o Dicionário Michaelis (2012), a violência pode ser caracterizada enquanto “[...] 2 Qualidade do que atua com força ou grande impulso; força, ímpeto, impetuosidade. 3 Ação violenta. 4 Opressão, tirania. [...]7 Irascibilidade. 8 Qualquer força empregada contra a vontade, liberdade ou resistência de pessoa ou coisa. 9 Dir Constrangimento, físico ou moral, exercido sobre alguma pessoa para obrigá-la a submeter-se à vontade de outrem; coação”. É de grande importância o enfoque na irascibilidade, impetuosidade e coação para compreender melhor a atitude de grande parte dos personagens, que, pela sua falta de racionalidade e reflexão, acaba se levando pelos impulsos e agindo de forma que seu poder seja demonstrado e estabelecido pela força bruta.
Para o mesmo Dicionário, o verbete justiça é qualificado como “ 1 Virtude que consiste em dar ou deixar a cada um o que por direito lhe pertence. 2 Conformidade com o direito. [...] 6 Autoridade judicial. 7 Ação de reconhecer os direitos de alguém a alguma coisa, de atender às suas reclamações, às suas queixas etc. 8 Poder de decidir sobre os direitos de cada um, de premiar e de punir. 9 Exercício desse poder [...]”. De acordo com os posteriores exemplos, poderá se observar que, de fato, a justiça é uma manifestação do poder que um personagem possui sobre o outro em relação ao que julga correto, com pouco ou nenhum embasamento na lei judicial, mas em suas “leis pessoais” baseadas em seu emocional.
 
É perceptível então a forte ligação entra os conceitos de violência e de justiça estão fortemente atrelados sendo a primeira uma forma de execução de poder e daquilo que subjetivamente considera justo e correto.
 
2.2- Personagens
 
Conforme se avança na leitura das obras de Graciliano Ramos, observa-se que os cenários são compostos mais por indivíduos do que por objetos. O autor valoriza bastante o mergulho psicológico em seus personagens, não temendo caracterizá-los seja da forma mais rudimentar até a mais profunda. Por esse motivo, o aspecto central de ensaio será abordado através dos personagens.
 
2.2.1.      – A Mãe
Desde suas mais oníricas recordações da figura materna, o narrador-personagem tem em mente “[...] uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza, sempre a mexer-se, bossas na cabeça mal protegida por um cabelinho ralo, boca má, olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura”. Também é dito que quando havia harmonia conjugal, toda essa violência de sua aparência e personalidade pareciam dissolver-se, voltando, porém, com a menor futilidade que lhe devolvesse a inquietação. Também resolvia suas desconfianças da mesma forma que a maioria das outras pessoas do meio: através de ameaças violentas.
Um outro aspecto interessante de sua personalidade são os motivos de seus conflitos, como por exemplo a aversão que sentia pela filha de um casamento anterior de seu marido, que é chamada pelo narrador de “irmã natural”. A mãe do eu-lírico se sentia incomodada pela beleza da menina, da qual não possuía, e, peculiarmente, descontava sua angústia em seus próprios filhos que lhe assemelhavam, pois cria que se maltratava quando os maltratava. Além disso, também se enfastiava quando discordavam de suas crenças, como a religiosa, e usava da força como último argumento.
 
2.2.2.      – O Pai
Ainda que não se lembre de sua primeira infância com clareza, a confusão de lembranças de aspectos violentos é evidente no comportamento dos pais e no próprio ambiente. Um exemplo disso está presente no trecho: “Revejo pedaços deles, rugas, olhos raivosos, bocas irritadas e sem lábios, mãos grossas e calosas, finas e leves, transparentes. Ouço pancadas, tiros, pragas, tilintar de esporas, batecum de sapatões no tijolo gasto”.
Acostumara-se também a ver o pai enquanto uma figura de autoridade, sério e silencioso enquanto acumulava seus berros para seus funcionários da fazenda. Sutilmente, começa então a associação do narrador entre violência e poder no trecho “Meu pai era terrivelmente poderoso, e essencialmente poderoso. Não me ocorria que o poder estivesse, fora dele, de repente o abandonasse, deixando-o fraco e normal[...]”.
Um dos capítulos mais importantes para o tema da “Violência e Justiça” é o capítulo “Um Cinturão”. Nesse, o personagem principal admite que seu envolvimento com a justiça foi doloroso e que lhe deixara marcas profundas, sendo posto no banco do réu pela primeira vez quando tinha cerca de cinco anos e seu pai perde um cinturão seu, julgando o menino enquanto culpado e castigando-o logo em seguida ao ver que a criança estava assustada demais até para se defender. O desespero do infante é tamanho que ele chega a torcer para que alguém chegue e receba o castigo em seu lugar. Ao encontrar o cinturão na rede onde dormira há pouco, o pai reconhece seu erro, mas, possuidor de grande orgulho, não se aproxima do filho para se desculpar. Neste capítulo, o narrador-personagem desenvolve reflexões interessantes, como a justiça como algo que não lhe parecia muito correto e eficiente e o medo enquanto uma violência maior que a própria dor.
O pai possuía, além disso, o costume de chamar o filho por nomes grosseiros, como “papa-lagartas”, entre outros.
Em dado momento da narrativa, o pai resolve ensinar o filho a ler e este acata esse desejo da figura paterna com a esperança de reduzir os castigos recebidos. Entretanto, aprender com o pai se mostra uma tarefa tempestuosa devido a sua impaciência e agressividade; sentia-se tão oprimido que perdia nos pensamentos até aquilo que havia aprendido e era submetido a palmatórias.
Anos mais tarde, ainda que não soubesse de direito, o pai recebera o cargo de juiz substituto já que possuía o “necessário” para a função: a confiança do chefe político atual e a plena noção de que à justiça local convinha que os amigos fossem absolvidos e os inimigos condenados. Apesar da habitual violência aos filhos, no episódio em que manda prender o morador de rua Venta-Romba, o pai mostra-se pouco habilidade na violência enquanto autoridade oficial. O fato é que o narrador evolui o seu conceito de justiça com essa situação ao não ver sentido em prender um homem tão frágil que não podia fazer mal. É possível, então, comparar os capítulos de Venta-Romba e o do Cinturão, onde ambos os personagens se mostravam tão amedrontados que não conseguiram reagir diante da figura do Pai/Juiz e apenas sofreram as punições injustamente. Logo, a concepção de justiça passa a ser objeto de constante desconfiança para o narrador.
 
2.2.3.      – O Papa-hóstia
Tal criança aparece por volta da página 18, e é citada sem muitos detalhes, mas é um dos primeiros exemplos de violência infantil na obra. A história lhe é contada por D. Maria desde muito pequeno, onde o tal menino – Papa-hóstia - era amancebado do Vigário e era maltratado por este último e sua amante, a Folgazona. O narrador não capta muito bem de que forma o rapaz era maltratado, mas em sua ingenuidade, calcula que seja da mesma maneira que seus pais o faziam: através de “bolos, chicotadas, cocorotes, puxões de orelhas”. Por esta questão de identificação, o eu-lírico passa admirar este personagem, já que este último conseguia descontar a sua raiva em algo – como queimar o rabo dos gatos, por exemplo - enquanto o próprio narrador admite não ter jeito para a violência, aguentando todos os “cascudos” em infeliz silêncio. Percebe-se então que o narrador não admirava a violência em si, mas a capacidade de “vingar-se da vida” pelo desconte. A partir desse momento, fica muito claro o aspecto cíclico de descontar frustrações, agressões e outros sentimentos por meio da violência.
 
2.2.4.      – Os Avós
É alegado que a avó materna da personagem principal sofrera com os ciúmes do marido e por esses desgostos não conseguia demonstrar a bondade de sua pessoa.
 
2.2.5.      – Os Freis
Mais um exemplo da conquista do respeito pela agressividade, era a própria figura religiosa do Frei Clemente que é caracterizado como bárbaro por fustigar as mulheres, insultar seus paroquianos e gritar com certa frequência.
 
 
2.2.6.      – O Menino José
Tal figura era uma criança muito ativa que realizava muitas artimanhas. Por volta da página 86 e 87, José é castigado pelo pai do narrador-personagem, que começa a enxergar a justiça como o troco por meio de violência, uma sentença fornecida por uma pessoa de maior força. Porém, ao desejar provar para si mesmo que era capaz de ferir alguém, se junta ao pai para fazer José pagar a pena e acaba também pagando pelo erro, já que o pai acredita que o filho machucou o outro menino. Quando o pai lhe castiga, o narrador acaba por não desenvolver mais sentimentos ruins, pois nota que, de fato, não tinha aptidão para a violência. Repara-se então que a violência é tão constante na vida do eu-lírico que este associa o castigo a uma justa redenção, preferindo receber o castigo esperançoso de que pudesse assim reaver seu perdão e viver bem novamente.
 
 
 
2.2.7.      – Os Professores
Depois de muitas tentativas de ensiná-lo, o pai e o avô do personagem principal resolvem colocá-lo em uma escola, lugar que o narrador considerara injusto e horrendo, pois que não podia negar sua existência.
A primeira profissional da educação que lhe acompanha é D. Maria, que apesar de não ter muito conhecimento, é uma pessoa paciente que lhe afetava de maneira que lhe causava culpa caso não se esforçasse o suficiente, e não por motivos opressores, mas por desejar agradá-la.
Diferentemente da primeira professora, Maria do O se mostra bem diferente da anterior e, assim como o pai, adere à palmatória.
Já o terceiro professor, apesar de ser um homem de mais conhecimento, mostra-se uma figura encolerizada que em sua aspereza agredia os alunos com a palmatória como se “quisesse derrubar o mundo”.
Em certa passagem da narrativa em âmbito escolar, vê-se que a violência é estimulada: aquele que acertasse uma questão difícil teria o direito de bater com a palmatória naqueles que errassem.
 
 
2.2.8.      – Chico Brabo
No período em que apresentou uma doença que lhe causou uma cegueira, o narrador-personagem passa a prestar mais atenção nas palavras e sons ao seu redor, e o comportamento de um dos personagens lhe chama a atenção: Chico Brabo. Tal homem deixava o eu-lírico nervoso já que ele demonstrava aparente tranquilidade até mesmo quando solicitava a presença de seu funcionário João para que lhe castigasse. Esse comportamento explicita ainda mais a cotidianidade da violência, seja na cessão ou recebimento.
Chico Brabo parecia tão complexo para o narrador que ele o divide em dois: o moço sorridente que fornece remédios e o homem ruim que bate em João. O narrador também deduz que se Chico tivesse uma família e/ou mais funcionários, poderia “dividir” suas agressões entre eles igualmente, de forma que tudo não recaísse apenas sobre João.
 
 
 
2.2.9.      – Fernando
Desde que se mudara e seu pai passara a ser dono de uma loja, o narrador sofre perseguição de adultos que o faziam de chacota. Uma passagem interessante a respeito é a qual Fernando o acusa de mentiroso e, para sua defesa, o narrador-personagem declara que esta afirmação é injusta já que não sabe mentir, o que revela uma evolução em sua noção de justiça.
Ao falar um pouco mais sobre o personagem Fernando, averigua-se que ele era um homem de natureza negativa, que violentava meninas e apavorava as mais diversas pessoas, sendo humilhado apenas pelo próprio patrão. Presume-se que muito de seu comportamento tirânico seria um desconte dessas humilhações sofridas.
 
 
2.2.9.1.– O Menino da Escola
Essa criança era excluída na escola e o pai da mesma alegava que o jovem não prestava, mas o próprio narrador não sabia o porquê dessas afirmativas embora demonstre certa curiosidade a respeito. De toda forma, o menino sofria agressões e todos os lugares que frequentava e, mais tarde, se tornaria de fato uma pessoa ruim e violenta.
Tal pessoa morreria vítima de punhaladas de um inimigo, o que parece ser bastante comum no contexto da obra já que as pessoas não se mostravam impressionadas com a “justiça feita pelas próprias mãos” a partir do momento em que estavam acostumadas encontrarem mortos os pobres “cabras ruins”.
De qualquer forma, este menino seria um exemplo do resultado do determinismo social, caso oposto ao do narrador-personagem, que apesar do ambiente e dos maus tratos sofridos permanece uma pessoa não agressiva e com interessantes reflexões sobre a justiça.
 
3.      Conclusão
                           
Após a cuidadosa avaliação das passagens narrativas é possível concluir que a violência no contexto da obra Infância é uma forma de demonstrar poder, argumentar, resolver problemas, descontar sentimentos, estabelecer respeito e, mais abrangentemente, conseguir o que se quer, além de possuir um curioso caráter cíclico. Já a justiça é algo que faz o narrador refletir durante todo o livro e se aproxima mais da desconfiança para com o termo, do que da certeza de que ela concederia penalidades honestas aos reais culpados de algo. Tais concepções fariam o narrador-personagem crescer com tamanha desesperança que nem ao menos cita o menor sonho infantil ou alguma brincadeira que lhe causasse muito prazer em suas próprias memórias.
Além disso, outro fator de destaque foi que, apesar de todas as influências das pessoas e meios, o determinismo não lhe tornou, até o final da narrativa, uma pessoa de índole má ou agressiva. Apesar das animalizações, isso mostra que o livro está além de algo como um pós-Naturalismo, mas está classificado como um Modernismo autêntico que apenas o próprio Graciliano Ramos poderia fornecer.
  
 
Bibliografia
 LINS, Álvaro: Jornal de Crítica – Segunda Série. Rio de Janeiro, 1943 (Artigo sobre Graciliano Ramos)
MICHAELIS (Dicionário de Língua Portuguesa) - Editora Melhoramentos, 2012 – Nova Ortografia – Site: http://michaelis.uol.com.br/)
RAMOS, Graciliano: Infância (Livro) – Editora Record
VESTIBULAR 1 (Site: http://www.vestibular1.com.br/resumos_livros/infancia.htm)

terça-feira, 18 de outubro de 2016

11 de janeiro de 2016.

ohgigue:
“ #wip for upcoming short story
”



  Não havia porque me buscar em uma segunda-feira, mas ele havia prometido e aquilo me dava um tipo de faísca no coração. "Vou passar aí perto de qualquer jeito, não custa nada eu te encontrar." Hugo havia argumentado.
  Eu me despedira de Matheus e Carina, que sempre peavam o mesmo ônibus que eu para ir para casa e ficara na recepção da cia de teatro esperando. A secretária terminava de arrumar suas coisas para ir para casa. O pequeno relógio na parede avisava: dezenove horas e vinte.
  Uma fumaça aromática saía do incenso na mesa. Meu olhar passeava pelos cantos da pequena sala: uma planta provavelmente falsa de um lado, um pôster em preto e branco do outro. A televisão transmitia o making off de algum filme de décadas passadas que eu não conseguia reconhecer, mas havia algo que chamaria minha atenção em um momento em que eu não estivesse tão inquieta. Dezenove e quarenta.
  Eu tinha avisado que sairia às dezenove horas. Será que ele havia esquecido? Ou, quem sabe, um contratempo? Pego meu celular e lhe envio uma mensagem. "Estou te esperando :)". Abro sua foto enquanto espero a resposta. Hugo está de perfil como se não quisesse realmente tirar a foto. Havia algum tempo desde que ele tirara uma foto sorrindo. Ele ainda não respondeu. Guardo o celular e aguardo seu vibrar. Vinte horas.
  - Ei, Ana. - a secretária coloca a mão no meu ombro chamando minha atenção. - Eu tenho que ir embora, mas se você quiser eu deixo a chave com você pra você fechar aqui. Só que aí você vai ter que chegar mais cedo que eu amanhã. - ela sorria, mas havia pena em seus trejeitos.
  - Não, tudo bem. Ele já está chegando, espero na escadinha ali fora mesmo.
  Ajudo-a desligando e terminando de fechar as coisas e me despeço dela. Ponho-me sentada no primeiro degrau. Está escuro e meu estômago revira um pouco de nervoso. Eu não queria estar ali. Pego o celular novamente e ligo para ele quase umas dez vezes. Ele não atende.
  Vinte horas e trinta e uma silhueta aparece na rua deserta. Hugo. Levanto e caminho em direção até ele, mas ele não me espera. Sem me olhar, vocifera:
  - Você disse nove horas! Nove horas! Está desde sete horas enchendo meu saco! Eu estava em aula, porra!
  - Não, eu disse sete horas... Você que não me ouviu...
  - Ainda vai dar uma de mentirosa agora? - ele se virou brevemente, seu rosto cheio de raiva. Perguntava-me se a culpa disso era realmente minha.
  - Como eu poderia chegar em casa todo dia às oito se saio às nove? - sinto meus olhos se encherem de lágrimas, mas não deixo minha voz transparecer o choro vindouro. - E sua aula não termina às seis?
  Ele não responde, parece pensar. Está muito à minha frente. Acelero o passo, quase correndo. Sinto então o cheiro de cerveja em suas roupas. Não estava bêbado, mas certamente eu havia interrompido uma noite no bar.
  - Depende do dia. - ele mentia.
  - Se não queria me buscar, não falasse que vinha. - paramos no ponto de ônibus.
  - Então vai pra casa sozinha. - e voltou a andar.
  - Hugo! - chamo. Não acredito que ele estava fazendo aquilo. - Hugo!
  Ele nem ao menos olha para trás... Assisto-o desaparecer rua abaixo, sentindo-me profundamente humilhada e magoada. Não queria voltar para casa e dar de cara com ele no dia seguinte ou em qualquer hora da madrugada que fosse. Chorando como uma criança, ligo para Carina:
  - Oi, Ana. Que foi? - ela atende.
  - Ah, eu queria saber... se podia dormir na sua casa hoje.
  - Claro, mas... Que voz é essa? Aconteceu alguma coisa?
  - O de sempre...

Resenha de O Show do Truman

Imagem de jim carrey and truman



  Esse filme é desses que a gente chega a se sentir despreparada pra falar sobre. Bem, começar com uma sinopse é o jeito.
  Truman é um homem que segue fielmente o American Way of Life: casinha no subúrbio, casado com uma moça prendada que vive para o lar, uma manhã cumprimentando os vizinhos, trabalho no escritório. E, assim, diariamente. O que ele não sabe é que sua vidinha comum se passa dentro do maior estúdio de cinema do mudo e que ele é o entretenimento das pessoas do lado de fora que o assistem como um reality show desde seu nascimento. Suas desconfianças começam quando ele decide viajar para as ilhas Fiji encontrar uma moça por quem era apaixonado na adolescência e simplesmente não consegue sair da ilha onde mora devido às manipulações da emissora.
  Além de prender muito a atenção, é uma produção cinematográfica que te faz pensar além do "será que estou sendo observado?". Faz refletir até que ponto estamos sendo manipulados para não sairmos de nossa vida cotidianamente de reproduções sistemáticas. Até que ponto nossas escolhas são nossas?
  O Show do Truman é um filme leve com reflexões pesadas. É aquela recomendação que demoramos a assistir e que depois fica na nossa cabeça por dias.

sábado, 15 de outubro de 2016

Um vício chamado Podcast


Imagem de converse, red, and iphone



  Podcast não é algo novo, mesmo assim, poucas pessoas conhecem. Pelo menos ao meu redor, eu só conheço umas quatro pessoas que ouvem. Mas isso é algo que pode ser mudado, levando em conta que essa ferramenta de áudio, ainda que pareça simples, é revolucionária em pequenas escalas.
  Para quem, não sabe o que é, podcast é como um vídeo do youtube, mas só com o áudio, onde várias pessoas discutem temas variados ou específicos. Eles são ótimos para se ouvir enquanto você se locomove pela cidade, faz uma caminhada, uma atividade doméstica ou quando está simplesmente no tédio. Eles são viciantes de um jeito que eu procuro coisas pra fazer em casa ou invento de ir na padaria só para ficar ouvindo alguns podcasts enquanto isso.
  Você pode ouvi-los através de aplicativos agregadores no seu smartphone (é só pesquisar podcast na loja que você acha um monte) ou através dos sites de podcast, tendo a opção de ouvir online ou de baixar.
  Agora que você já sabe como funciona, vou indicar alguns para que você que nunca ouviu tenha uma ideia.


Resultado de imagem para anticastAntiCast

  Passa por variados assuntos - do xadrez ao impeachment -, e os aborda de forma inteligente e sempre contando com especialistas. Nenhum episódio vai passar por você sem te acrescentar um pouco.


NerdCast

  Um dos mais antigos e famosos, o podcast do Jovem Nerd fala de filmes, séries, história, fim do mundo, e todo o assunto que o mundo geek pode perpassar. Os caras são uma comédia e já perdi as contas de quantas vezes ri sozinha dentro do ônibus.


Resultado de imagem para um milkshake chamado wandaUm Milkshake Chamado Wanda

  O podcast do site Papel Pop é de fazer morrer de rir com seus comentários sobre notícias do mundo pop e comentários pessoais. Quase todos os episódios tem um convidado, e o programa conta com o Lotus, as coisas flop da semana, o Meryl, as coisas maravilhosas da semana, e o Interessantney, com várias indicações. Ah, não indico o programa para menores de 16 devido às cartas recebidas, e se você é homofóbico, nem ouça. Aliás, nem leia esse blog. Vamos melhorar, né.



Confins do Universo

  Se você gosta de quadrinhos, esse é o podcast perfeito pra você. Os caras do Universo HQ realmente sabem do que estão falando, e ouvi-los é um ótimo entretenimento.


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Filosofia Pop

  De fácil compreensão, esse podcast apresenta temas e autores da filosofia e associam com questões cotidianas. Os convidados são professores e pesquisadores de renome e dão legitimidade à discussão. É uma ótima maneira de se introduzir nos assuntos da disciplinas.






  Por hoje é isso, mas em breve volto recomendando mais podcasts. Um grande agradecimento à Maure, a grande responsável pelos meus vícios. Até a próxima. :)



segunda-feira, 10 de outubro de 2016

8 de janeiro de 2016.




  Minha primeira semana na companhia de teatro local havia sido fantástica. Eu havia feito o teste no final do ano passado e logo no início da semana recebera a ligação dizendo que eu havia sido aceita. Eu mal conseguia acreditar no tamanho de minha sorte, já que toda minha experiência teatral se resumia a oficinas de poucos dias que havia feito quando era mais nova e ainda morava com meus pais e a tradição de ir ao teatro ao menos uma vez por ano.
  Os ensaios em si não tinham começado ainda. Nossas reuniões diárias se resumiam a testar o realismo das falas, discutir posições de palco, possibilidades de figurino e cenário. Não era uma superprodução e meu salário era quase similar ao que eu recebia na cafeteria, um pouco menor, na verdade. Mas existia a possibilidade dele subir dependendo da aceitação do público.
  A antiga construção pintada de branco e com as janelas coloridas havia me cativado em pouco tempo, juntamente com o resto da equipe fácil de socializar, até mesmo para mim. Eu não lembrava da última vez que simplesmente aceitava sair do trabalho com um grupo grande de amigos pra comer uma besteira em um barzinho arrumadinho e conversar algo sem relevância enquanto ouvíamos música. Pela primeira vez em anos eu conseguia apreciar a companhia de um grupo, conversar sem me sentir pressionada, e até mesmo, ouvir o som da minha própria risada.
  Parecia que algo estava florescendo novamente dentro de mim... Tantos anos de retração sendo colocados para fora. Eu me sentia viva novamente.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

2 de janeiro de 2016.




  O alarme me desperta. Dessa vez, o barulho até parece tranquilo. Eu havia esquecido de desliga-lo. Não preciso mais dele, não tenho porque acordar cedo. Mas me sinto estranhamente feliz por estar acordada. Olho para o teto branco e vejo o ventilador parado. A noite havia sido fresca e eu havia dormido  bem.
  Desligo o despertador e me sento, espreguiçando-me sob os lençóis brancos. Havia música ressoando pela casa. Vou direto para o chuveiro e ao som daquela música boa tomo meu banho.
  Depois do ano novo, que não havia sido isso tudo, todos foram embora da casa de praia. Finalmente, éramos só nós dois.
  Saio do banheiro ainda enrolada na toalha e vejo Hugo cantando e balançando a cabeça, a liberdade de quem não sabe que está sendo observado. Quando ele se vira e dá de cara comigo, sorri desconcertado e me puxa pela mão, levando-me a dançar com ele. Ele me rodopiava pela sala um tanto fora do ritmo da música, mas de um jeito que me divertia muito. Eu ria e sentia meu coração acelerar, talvez pela agitação física ou emocional. Talvez pelos dois.
  Quando a música terminou, Hugo se jogou no sofá e me levou junto. Logo, outra música começou, mas nosso foco havia mudado.  Eu ficava assim observando os detalhes de seu rosto e ele os meus. Ele pôs um beijo no meu rosto e eu vi ali o melhor do dia que eu tivera em anos. Era como se tudo estivesse começando novamente, como se eu estivesse me apaixonando pela primeira vez.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Conclusão da #TBRemCacos

   O nome da maratona fez jus à minha TBR. Dos três livros selecionados, apenas um foi concluído. Maaaas, acabei inserindo algo novo no meios das leituras que pode dar uma nova cara às resenhas que posto aqui. Então, vamos à conclusão.
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Nas Noites Árabes
  E justamente o livro que eu não sabia sobre o que se tratava e que ninguém falava sobre, foi o que eu concluí e que mais me agradou. Abordando inúmeras histórias e a importância da oralidade, o livro me conquistou absurdamente. As histórias árabes são carregadas de simbolismos e lições cativantes, mostram que o oriental tem muito a oferecer. Não dou apenas cinco estrelas, mas todas as estrelas do céu, pois que inúmeras se mostraram para mim através de suas lições.

A Sociedade do Espetáculo
  Consegui passar da metade dele e ainda estou tentando articular boas maneiras de sugar dele o máximo possível.

O Retorno do Rei
  Esse foi o que menos avancei. O último livro da trilogia de O Senhor dos Anéis tem um clima de guerra mais pesado e me tirou o ritmo dos outros dois livros. Creio que ainda devo demorar um pouco mais para termina-lo.

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   A grande novidade da maratona foi a inclusão de HQ's de Super Heróis (ou anti heróis?). A primeira história lida foi A Piada Mortal, um clássico das comics do Batman que conta a origem de seu principal inimigo: O Coringa. A narrativa contém nuances argumentativas que fazem o leitor passar de um lado para o outro em questão de quadros. Como estou entrando agora no "ramo dos quadrinhos" minhas resenhas serão bem simplificadas e mais focada na história e aura dos acontecimentos do que da própria arte e produção em si.
  O outro que li foi Batman: O Cavaleiro das Trevas Mais Densas. Acredito que cometi um erro ao ler essa história agora que, pela minha interpretação, seria um outro universo (?) corrijam-me se eu estiver errada. Acho até que se eu der a sinopse dessa história acabo entregando tudo, é muito inesperado. Tive a sensação também de que tudo acontece muito rápido, talvez porque eu ainda esteja me acostumando ao ritmo dos quadrinhos. Enfim, esta edição já não me agradou tanto.
  Por último, li A Agenda Secreta da Arlequina onde a vilã/nova anti-heroína da DC mostra seu fascínio pela figura da Mulher Maravilha e planeja toda uma trama para se aproximar da amazona. O clima das histórias da Arlequina é muito mais colorido e divertido. É puro entretenimento.

  Então, por essa maratona de uma semana foi isso. Espero que ela tenha sido produtiva para você caso tenha participado. E, ah, se tiver recomendações de quadrinhos para quem está começando, não deixe de deixar a sugestão nos comentários. :)

29 de dezembro de 2015.




  Hugo havia proposto que viajássemos para a casa de praia da família por parte de pai dele para passarmos o final do ano com mais tranquilidade. No entanto, eu tinha o pressentimento que poderia não ser tão calmo assim, ainda mais sabendo que não seríamos só nós dois. Seríamos nós dois, o primo dele e sua namorada somados aos amigos em comum.
  No total éramos oito em uma casa não tão grande assim. Isso me deixava desconfortável, mas pior que isso era apenas a presença de Alexa. Mesmo quando não saía, fazia questão de se manter perfeitamente arrumada. Delineador, batom vermelho, cabelo escuro perfeitamente alisado e recém cortado. Eu odiava o jeito como sorria para Hugo. Eu odiava o jeito como sorria. Sempre que conversava com seu outros amigos, ela mantinha o rabo de olho em Hugo. Algo se inquietava em mim imaginando se ele não estaria minimamente interessado. A mim, ela não dirigia a palavra, muito mal o olhar. Como se eu não estivesse ali.
  Estava frio, mas decidiram ir à praia caminhar na areia. Eu não estava minimamente interessada em ir, mas não queria parecer ainda mais deslocada do que estava. Alexa usava uma jaqueta jeans que Hugo elogiara e os dois iam conversando na frente do grupo. Eu andava atrás de todos. Resolvi caminhar ainda mais devagar para checar se sentiriam minha falta. Não sentiram.
  O ciúmes se misturava com a solidão. Talvez o mais sábio a se fazer fosse deixa-lo ir com ela. Na verdade, por mais que tudo estivesse bem, parecia que ultimamente eu tentava enxergar qualquer motivo que me afastasse de Hugo. Qualquer motivo para acabar com o tipo de vida que eu tenho.
  Parei e vi-os ir para cada vez mais longe. Suspirei e sentei-me na areia esbranquiçada. Olhei o oceano ao longe enquanto o vento ricocheteava meus cabelos mal presos. O mar estava bravio e o som invadia meus ouvidos como uma repreensão da vida. Era algo bonito de se ver e doloroso de sentir.

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