Neverland pensei_falei@hotmail.com - -

terça-feira, 18 de outubro de 2016

11 de janeiro de 2016.

ohgigue:
“ #wip for upcoming short story
”



  Não havia porque me buscar em uma segunda-feira, mas ele havia prometido e aquilo me dava um tipo de faísca no coração. "Vou passar aí perto de qualquer jeito, não custa nada eu te encontrar." Hugo havia argumentado.
  Eu me despedira de Matheus e Carina, que sempre peavam o mesmo ônibus que eu para ir para casa e ficara na recepção da cia de teatro esperando. A secretária terminava de arrumar suas coisas para ir para casa. O pequeno relógio na parede avisava: dezenove horas e vinte.
  Uma fumaça aromática saía do incenso na mesa. Meu olhar passeava pelos cantos da pequena sala: uma planta provavelmente falsa de um lado, um pôster em preto e branco do outro. A televisão transmitia o making off de algum filme de décadas passadas que eu não conseguia reconhecer, mas havia algo que chamaria minha atenção em um momento em que eu não estivesse tão inquieta. Dezenove e quarenta.
  Eu tinha avisado que sairia às dezenove horas. Será que ele havia esquecido? Ou, quem sabe, um contratempo? Pego meu celular e lhe envio uma mensagem. "Estou te esperando :)". Abro sua foto enquanto espero a resposta. Hugo está de perfil como se não quisesse realmente tirar a foto. Havia algum tempo desde que ele tirara uma foto sorrindo. Ele ainda não respondeu. Guardo o celular e aguardo seu vibrar. Vinte horas.
  - Ei, Ana. - a secretária coloca a mão no meu ombro chamando minha atenção. - Eu tenho que ir embora, mas se você quiser eu deixo a chave com você pra você fechar aqui. Só que aí você vai ter que chegar mais cedo que eu amanhã. - ela sorria, mas havia pena em seus trejeitos.
  - Não, tudo bem. Ele já está chegando, espero na escadinha ali fora mesmo.
  Ajudo-a desligando e terminando de fechar as coisas e me despeço dela. Ponho-me sentada no primeiro degrau. Está escuro e meu estômago revira um pouco de nervoso. Eu não queria estar ali. Pego o celular novamente e ligo para ele quase umas dez vezes. Ele não atende.
  Vinte horas e trinta e uma silhueta aparece na rua deserta. Hugo. Levanto e caminho em direção até ele, mas ele não me espera. Sem me olhar, vocifera:
  - Você disse nove horas! Nove horas! Está desde sete horas enchendo meu saco! Eu estava em aula, porra!
  - Não, eu disse sete horas... Você que não me ouviu...
  - Ainda vai dar uma de mentirosa agora? - ele se virou brevemente, seu rosto cheio de raiva. Perguntava-me se a culpa disso era realmente minha.
  - Como eu poderia chegar em casa todo dia às oito se saio às nove? - sinto meus olhos se encherem de lágrimas, mas não deixo minha voz transparecer o choro vindouro. - E sua aula não termina às seis?
  Ele não responde, parece pensar. Está muito à minha frente. Acelero o passo, quase correndo. Sinto então o cheiro de cerveja em suas roupas. Não estava bêbado, mas certamente eu havia interrompido uma noite no bar.
  - Depende do dia. - ele mentia.
  - Se não queria me buscar, não falasse que vinha. - paramos no ponto de ônibus.
  - Então vai pra casa sozinha. - e voltou a andar.
  - Hugo! - chamo. Não acredito que ele estava fazendo aquilo. - Hugo!
  Ele nem ao menos olha para trás... Assisto-o desaparecer rua abaixo, sentindo-me profundamente humilhada e magoada. Não queria voltar para casa e dar de cara com ele no dia seguinte ou em qualquer hora da madrugada que fosse. Chorando como uma criança, ligo para Carina:
  - Oi, Ana. Que foi? - ela atende.
  - Ah, eu queria saber... se podia dormir na sua casa hoje.
  - Claro, mas... Que voz é essa? Aconteceu alguma coisa?
  - O de sempre...

0 comentários:

Postar um comentário

Seguidores

Popular Posts

Quem sou eu

Minha foto
Escritora, professora, universitária, leitora ávida, amante das artes.
Tecnologia do Blogger.