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sábado, 7 de dezembro de 2019

Resenha | O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder





  O Mundo de Sofia é um livro sobre o qual ouço falar a anos  entre comunidades de leituras, amigos e professores e nenhum deles jamais me deu um spoiler, ou mesmo uma ideia mais profunda do que se trata. Deparei-me com o livro em estado defeituoso na bienal a uma bagatela e a capa só me revelava que era sobre a história da filosofia. A vendedora logo disse que eu era sortuda por achar o último.

  Cheia de expectativa fui logo eu ler e conheci Sofia, uma menina de 14 anos que começa a receber cartas misteriosas tanto sobre filosofia quanto sobre um representante da ONU que quer que ela entregue cartas para sua filha. A história segue então pelos dois viéses e enquanto um é rapidamente desvendado - não sendo, portanto, um spoiler -, o segundo se arrasta quase até o final com pouquíssimas pistas e com um resultado inesperado sendo respondido logo de uma vez.

  A filosofia, no geral, é muito bem explicadinha, mas pode dar um certo cansaço, pois alguns capítulos são longos. Caso o leitor não esteja acostumado com aquela teoria é possível que ele precise reler em alguns momentos. Não é uma leitura completamente livre de empecilhos afinal.

Resultado de imagem para o mundo de sofia  No entanto, é preciso esclarecer que essa "história da filosofia" é a filosofia dos homens ocidentais. "Ora, mas o autor cita filósofas! Sofia inclusive cobra muito saber sobre elas...". Pra mim me parece uma jogada de autor "para não dizer que não falei", pois Hildegarda de Bingen tem um parágrafo ou dois dedicados a ela, simples menção. E Simone de Beauvoir aparece depois da menção a Sartre, nada maior que uma ou duas páginas. Enquanto isso, outros homens ganham capítulos inteiros, muitos deles até com seus nomes como título. Isso de forma alguma tira a relevância de seus trabalhos, mas invisibiliza as mulheres (mais uma vez). Isso para não falar de autores orientais, filosofias africanas, asiáticas, indígenas... Uma linha foi o que o autor achou suficiente para falar sobre. Não quero ser tão exigente, uma vez que é um livro do início dos anos 90, mas isto já é algo discutido desde à época, então é sim algo a ser considerado.

  Inclusive, é inevitável que o autor se posicione a todo momento na história (assim como seus próprios personagens cof cof), sendo por isso que dedico minhas críticas a ele e não a narrativa em si. Assim, este que é teólogo deixa evidente uma imparcialidade em relação aos estudos apresentados sobre o cristianismo, principalmente na visão católica e com menções consideráveis à protestate. No entanto, no final do livro ele se refere ao "New Age" e todo o "neomisticismo" com grande desrespeito, como se tudo fosse balela "com ressalvas", mas mais uma vez, apenas para dizer que seus personagens não generalizam. Dentro disto, há críticas ao retorno das religiões pagãs e wicca, por exemplo, e do espiritismo. Quanto a este último, o autor só falta acusar de charlatanismo com fenômenos baseados no inconsciente. Pergunto-me se o autor leu alguma das obras de fato, ou se ouviu falar e leu trechos soltos. Não seria muito filosófico. Enquanto isso, em diversos momentos em que se abordou o pensamento cristão católico deixou-se passar como perfeitamente passáveis argumentos que nem os próprios filósofos pretendiam que fossem racionais.

  Quanto aos personagens, Sofia é uma boa protagonista, bastante curiosa, em desenvolvimento, inteligente e interessante. No entanto, parecia se comportar de um jeito bem mais jovem, eu mesma só me lembrava que ela ia fazer 15 anos quando ela dizia. Alberto é tão excêntrico que cansa, imagino como um reflexo que o autor gostaria de incorporar. Hilde acaba aparecendo pouco, difícil dizer. Seu pai é o que melhor se revela sem nem se revelar. Ele e Sofia são as estrelas da história, eu diria.

  Bem, falando desse jeito parece que não gostei do livro. Olha, não é bem assim. Foi excelente aprender e reaprender e ser instigada a repensar tantas coisas. Foi bom ver o mistério finalmente desvendado - ainda que eu tenha ressalvas, acredito que poderia ter sido aprofundado - e achei surpreendentemente inspirador. Além disso, foi uma boa leitura lúdica e apesar de ser um calhamacinho, foi uma leitura muito rápida e agradável. Portanto, sem dúvidas é uma recomendação!


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