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terça-feira, 2 de agosto de 2016

12 de dezembro de 2015.

 



  Olho para as folhas em branco daquele bloco de notas. A caneta rodopia em minha mão. Minha mente fervilha, mas não consigo colocar nada no papel. Talvez o conselho de escrever o que se passa em minha cabeça fosse muito bom, mas eu não conseguia nem mesmo retirar a tampa da caneta. Gostaria que ele pudesse ler minha mente. Poderia ser mais fácil.
  Largo o material de escrita na mesa e termino de me arrumar. Mais uma semana passara e ele não aparecia. Tinha coisas para resolver, ia ficar longe por um tempo. No meio da semana, para que a reclamação não fosse a mesma, enviara-me uma mensagem perguntando se estava tudo bem. Nenhum assunto surgiu por parte de nenhum de nós. Nada realmente relevante.
  Eu não saía em uma sexta-feira à noite há meses. Ia apenas por insistência de Eduarda. Mais uma de suas insistências de me tirar do que ela chamava de monomania. Talvez ela estivesse certa.
  Visto o vestido de manga neutro, porém bonita de se usar à noite, e coloco meu único par de saltos. Delineio os olhos e pego minhas coisas para sair. Tranco a porta e desço as escadas do prédio. É uma escadaria feia e eu acredito fielmente que ainda vou cair daqui se não me mudar em breve.
  O táxi que Eduarda tomara, me esperava. Ela está bonita e animada e tenta me contagiar. Infelizmente, não é tão simples assim.
  Chegamos ao lugar. Na parte da frente, era um bar com música ao vivo. Na parte de dentro, bem isolada, um tipo de boate mais particular. Eu preferiria ficar do lado de fora, mas Eduarda queria ir lá dentro dançar, e como eu havia prometido ir com ela, eu a acompanharia.
  Ela já chegara vibrando e me implorando para dançar o que chamava de "melhor música do mundo" com ela. Eu não concordava tanto assim, mas dancei esta e mais uma outra. Depois, deixei-a na pista de dança e andei em volta do local procurando algo que prendesse a minha atenção, o que não aconteceu. Fui para os bancos do bar, onde eu passaria o resto da noite.
  Aos poucos, fui pedindo drinks. Alguns caras me olhavam, mas eu desviava e me preocupava em não voltar a olhá-los. Infelizmente, para um deles, esses desvio de olhar permanente não foi o suficiente. Sentou-se ao meu lado.
  - Posso te pagar um drink? - perguntou esticando o braço para me abraçar os ombros. Afastei-me, impedindo seu gesto apressado.
  - Não.
  - Quer dançar essa música comigo, então? - ele ajeitou seu cabelo e passou as mãos em sua barba.
  - Sinceramente? Tem um monte de menina lá dançando, porque não acompanha uma delas?
  - Parece que você não quer estar aqui. - ele cruza os braços tatuados casualmente. Suas tatuagens me lembras as de Hugo. Desvio o olhar.
  - Talvez eu não queira.
  - Então por que não vamos para outro lugar?
  - Nunca. - não é preciso muito esforço para mostrar meu desinteresse. Ele parecia querer insistir, então simplesmente levanto e vou até o banheiro.
  As coisas parecem meio incertas, fora de foco. Talvez eu tenha tomado drinks demais. Não me sinto mais feliz, no entanto. O usual incômodo no peito volta acompanhado da vontade de chorar. Eu não conseguiria chorar de qualquer forma. Olho-me no espelho e para minha surpresa já havia lágrimas escorrendo em meus olhos. Ao menos para isso aquela noite servira. Finalmente eu havia conseguido chorar. Não na intensidade que guardava, mas ao menos um indício de libertação dessa angústia sem nome.
 Espero até as duas da manhã no banheiro, onde não poderia ser incomodada. Exceto pelo choros e ânsias de vômito de outras garotas. Nada muito permanente, elas sempre voltavam para a festa depois. Quando o horário chegou, saí do estranho casulo e aviso à Eduarda que pretendo ir embora.
  - Aonde você esteve? - seu olhar indica que ela não queria saber aonde mas com quem.
  - Com ninguém interessante.
  Ela tinha um sorriso bobo no rosto enquanto voltávamos, mas era coisa da cabeça dela. Ainda estou meio zonza quando chego em meu prédio. Subo alguns degraus e meu pé vira. Só não caio todo o ramo de escadas, pois me seguro contra a parede.
 Eu sabia que esse dia ia chegar. O susto faz meu emocional se agitar e o choro finalmente vem. Sento-me ali mesmo e coloco tudo para fora.  Eu sabia que a queda e o pranto viriam, só não sabia quando. No final, eles sempre vêm acompanhados um do outro.
 

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