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terça-feira, 13 de agosto de 2019

O Menino queDescobriu o Vento: Uma Abordagem Geográfica

  O seguinte texto foi elaborado para uma disciplina da faculdade onde tive que fazer uma resenha de uma produção artística que retratasse um país africano além dos estereótipos. Pensado para sala de aula (ou além dela), coloquei em prática em um pré-vestibular social como uma proposta de aulão e tive bons resultados com os alunos. Espero que seja de bom proveito e, se utilizaras explanações, não deixe de atribuir os créditos e de, é claro, me contar como foi a experiência!


  O filme O Menino que Descobriu o Vento produzido pelo diretor Chiwetel Ejiofor no ano de 2019 é baseado em livro de mesmo nome escrito por William Kamkwamba e Bryan Mealer. A história é real e baseada na vida do mesmo William, que cresceu na vila de Wimbe, no Malaui. Por volta de 2001, uma série de acontecimentos marca sua vida, que passam por questões familiares, políticas, econômicas, culturais, de fome e de criação. Com a crise que se estabelece não apenas em seu povoado como em todo país, William é obrigado a deixar de frequentar a escola. Mesmo assim, ele resiste e com a ajuda de seus primos e dos livros da biblioteca, tem uma ideia inventiva para solucionar o problema da colheita: moinhos de vento para bombear água e irrigar os campos.

  Procurei dividir o filme em seus principais momentos, evitando possíveis “spoilers”, mas abordando os pontos geográficos centrais que podem ser abordados em sala. Sendo assim, o filme é dividido nos seguintes momentos:

  •        Kufesa, o plantio – com a perda de um familiar, sua vida se reestrutura. O clima local quente e seco, marcado por ventos fortes e chuvas torrenciais, define a colheita local. Mesmo vendendo o Malaui grãos excedentes para Quênia e Moçambique, o Estado passa por uma crise econômica que nem o FMI e o Banco Mundial puderam prever.
  •       Kukula, o crescimento – a democracia é narrada como “madeira importada, apodrece rápido”, o que demonstra logo em seguida que a democracia é na verdade uma ditadura disfarçada, com ampla repressão local aos insatisfeitos. Neste momento, compreende-se melhor a organização do país, havendo além do presidente, chefes locais que se responsabilizam pelo seu povo.
  •       Kukola, a colheita – com a falta de chuva não há plantio que cresça, e os preços dos grãos crescem exorbitantemente.
  •       Njala, a fome – um dos personagens diz ser o fim do tempo dos livros para ser o tempo do arado. No entanto, se não há condições biológicas para tal, o arado é em vão.
  •       Mphepa, o vento – por fim, William consegue apoio geral, vista a falta de alternativa das pessoas e a partir da ciência dos livros, pôde-se desenvolver a técnica e reverter as condições. Sendo assim, o tempo dos livros pode ser também o tempo do arado.

  O filme e o livro apresentam algumas diferenças, possuindo o segundo mais riqueza de detalhes. Por exemplo, no livro, é apresentado o fato de a fome ser quase um evento cíclico naquela região do Malaui; além disso, William não recebe apoio além do dos primos até que o primeiro moinho esteja pronto, servindo este apenas para energia elétrica de sua casa. Apenas mais tarde ele consegue desenvolver sua tecnologia voltada para o plantio, alem de poder aperfeiçoá-la conforme oportunidades de estudos foram aparecendo em sua vida.

  É interessante também notar que os momentos se referem à natureza, ao homem e, portanto, às suas relações. Ainda assim, as duas obras mostram perfeitamente que - diferentemente das sociedades ocidentais altamente tecnificadas e afastadas do meio natural -, a aproximação cultural do homem com a natureza permite que a técnica contribua ainda mais com essa interação.

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