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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Euphoria: Tão Crua que Dói de Ver (E isso é Bom)

 Se eu tivesse que definir Euphoria em uma palavra seria crua. É uma série crua, feita para ser imersiva e perturbadora. Desviei meus olhos inúmeras vezes da tela, pode ser gatilho para muita gente, mas tem mensagens a serem passadas, embora nem todas tão explícitas. É entretenimento, mas também é feita pra pensar. Daquelas séries que se assiste e se continua pensando sobre um tempo, muita coisa pra processar.

  Talvez o paralelo de Skins dessa geração, já me desculpo previamente por não me privar de comparações. Ora, Skins foi a série adolescente que desconcertou os pais e se tornou a favorita dos adolescentes, tendo impacto nas  redes sociais - com os clássicos gifs em preto e branco da Effy. Mas era evidente a romantização de distúrbios mentais, drogas e relacionamentos tortos. Euphoria mostra tudo isso, de forma ainda mais impactante, e promove uma conscientização além do discurso. As consequências dos atos que os personagens enfrentam são tão impactantes que criam um senso de distanciamento, entende? As cenas  são difíceis de ver.

  Imagino que os pais da geração tem o que aprender da mentalidade da juventude contemporânea. Quero dizer, tem coisas que parecem absurdas pra mim que sou da geração anterior (?), que dirá para os pais. Por exemplo, os nudes são um tema frequente, comum a quase todos os personagens, é usada nos termos da Rue como "moeda do amor", o que pra mim é inconcebível, mas que não é difícil de imaginar como um pensamento recorrente pra alguém que ainda está consolidando suas próprias ideias.

Personagens

Os personagens são aprofundados especificamente um por episódio, embora se desenvolvam também nos outros. Voltamos às suas infâncias e vemos (e ouvimos) suas vidas através da Rue - que é uma excelente narradora. Suas justificativas são mais profundas que um simples "eu quis" ou "estou chateado com uma coisinha em meio aos meus privilégios". Aliás, temos um ou dois personagens que tomam atitudes movidas por isso e são justamente eles os menos favoritos (um deles até o odiado). Este último, é o Nate. É o personagem que mais tem perfil de Riverdale, quase deslocado da série, até que no final as histórias se costuram melhor. Ele só não é totalmente problemático por si só justamente pelo aprofundamento familiar que a história constrói, mas isso não o torna menos desprezível. Já o pai do Nate merecia um fim melhor (ou pior, talvez), o cara tem certamente algum distúrbio, mas não acho que ele vá ter muito mais destaque por não ser parte do núcleo jovem.

  De resto, os personagens são carismáticos e facilmente compreensíveis e adoráveis. Façamos um apanhado por núcleo. Cassie é uma das que mais quero ver desenvolvida nas outras temporadas, seu potencial além do rostinho bonito foi feito pra ser mostrado. McKay eu não quero nem ver perto da Cassie mais, no entanto, ele ainda tem o que crescer, ainda mais com os eventos chocantes acontecidos nessa temporada. Lexi tem sido evidentemente guardada para mostrar-se com destaque na próxima. Há uma quarta amiga do grupo da Cassie, Maddy e Kat - de quem iremos falar já já - que foi bem esquecida também, se não forem fazer nada com ela futuramente, confesso que vai haver certa decepção, afinal, seria apenas uma centralidade de figurante. A Kat é lindíssima que tem sua virada de personalidade conforme se descobre sexualmente. Ela não tem das melhores soluções para os seus problemas e ainda tem o que colocar no lugar em sua personalidade, mas é uma das favoritas da série. Maddy teria tudo para ser a patricinha mimada da série, com a excessão de que ela não é rica, nem branca. Ela é uma lindíssima latina que descobre que pode ser tudo o que quiser se for confiante, e isso é uma mensagem poderosíssima. Se ela não tivesse desperdiçando seu próprio potencial fazendo sua vida girar em torno do Nate. É sério, pra próxima temporada, esteja decretada o fim desse casal e dada a largada do exponencial sucesso da Maddy.

  A forma natural como tratam a transsexualidade de Jules também é admirável, há as dificuldades da infância e algumas poucas situações de preconceito. Mas é evidente que ela já está em outro nível, discutindo questões de feminilidade e sexualidade. A irmã da Rue também já apareceu enquanto personalidade, mas enquanto sua puberdade vai passando, ainda tem muito pra aparecer. O Fez é um cara fácil de empatizar conforme se vê a relação familiar e de personalidade, embora o caráter não seja dos melhores sempre. E a Rue é a coisa mais preciosa de Euphoria. Cheia de potencial e de coisas lindas por ser e fazer, infelizmente passa por uma situação muito difícil com drogas. A situação dela é representada ao extremo sem glamourização nem se quer dos motivos. Espero que a Rue possa realmente se recuperar nas próximas temporadas.

Produção

É evidentemente uma produção que deu muito trabalho pra fazer. A cenografia é linda com destaque pras luzes, de forma que assistir por si só é uma experiência como li em um sábio comentário no Youtube. Ás vezes a iluminação fica muito artificial, mas o compromisso da série nesse sentido é além-realidade, é mais uma coisa sensorial mesmo. O roteiro não me chamou muito atenção como um todo, o destaque é mais para a narração da Rue e da carta da mãe dela no último episódio. Por essas evidências já se dá pra ver que os roteiristas são bons, mas que deixam a desejar na minha opinião nos diálogos. Não que eles sejam antinaturais, mas acho que faltou um pouco do "icônico" que a série oferece em muitos sentidos. E já que falamos nesta palavra, o que falar das maquiagens, não é mesmo? Todas as meninas parecem fadas futuristas ou coisa do tipo. Dá vontade de arrumar uma oportunidade pra fazer igual, afinal a forma como se expressam através dela é fantástica. Por fim, a trilha sonora é impecável, mal terminei de assistir já estava atrás de playlists no Spotify.


A série é excelente e mal posso esperar pela próxima temporada. Ela é um alerta da HBO para a Netflix de que eles estão aí pra dar trabalho, até porque eles preferem investir alto em algumas séries e dar continuidade ao invés de atirar para todos os lados e cancelar um monte que possuía grande potencial.


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