Escreva sobre o que Viu
Eu adormecera e não
mais estava em minha forma física habitual. Tal fato costumava acontecer, mas
dificilmente eu me sentia tão confortável em um corpo que supostamente não era
meu. Eu aparentava uma moça de singela beleza e alegria cativante no olhar. Eu
sentia sua pulsação, sua corrente sanguínea, sua respiração, eu sentia o
funcionamento de seu organismo. Mas não apenas isso, eu tinha acesso às suas
tristes memórias, a suas lembranças, sofrimentos, pessoas queridas, eu podia
sentir e compreender todas as suas sensações e sentimentos. E, principalmente,
a sua saudade.
Desejava confortá-la
e torná-la por dentro tão alegre quanto seus olhos expressavam. Era possível
concluir que seu olhar não mentia, mas a sua tristeza interior ainda era muito
significante. Mas, afinal, como eu poderia curá-la, se eu só estava
intrusamente invadindo o seu ser?
E então, parte de
sua história começou a se suceder naquele presente. Dois homens de aparência
séria e coração bom se aproximaram, e logo a moça se aproximou deles e iniciou
um colóquio. E então, tive a certeza de que a amizade que eles lhe forneceriam
seria suficiente para curá-la, para salvá-la. E meu espírito, se aquietou.
Quando abri os olhos
novamente, estava em um ambiente rústico, de um período colonial, o que
significava que eu não havia despertado completamente. Ergui-me em minhas
vestes leves e claras e caminhei até o espelho, onde vi o reflexo da bela moça.
- Viste? – ela perguntou
em voz doce e maternal.
- Sim. Desculpe-me
se fui invasiva. – respondi.
- Fizeste e viste o
que deveria. Eu preciso que você utilize isso agora.
- Como poderia?
- Escreva para o
mundo.
- Nem todos lerão. –
meus ombros penderam, sentindo que eu não seria suficiente para ela.
- Aqueles que
necessitam o farão.
Ela depositou sua
mão no espelho, e eu fiz o mesmo, sentindo seu toque. E aquele pequeno choque
de afeto, despertou o meu ser.
0 comentários:
Postar um comentário