Poesia da Semana #09
Dedicatória
Apareceis de novo, oh, sombras vaporosas,
Que meus olhos enchestes, outrora, radiosas?
Conseguirei por fim reter-vos junto a mim?
Meu coração se inclina às seduções assim?
Que atração exerceis! Conseguis, de uma em uma,
Manter-me envolto em sonho, mergulhado em bruma,
Renova-se o meu ser miraculosamente,
Bafejado do sopro que exalais ardente.
Convosco vêm lembranças velhas e distantes,
Sombras da adolescência, alegres, deslumbrantes,
Como lendas antigas que o tempo não apagasse.
Reacende em mim o amor, a amizade renasce,
Logo desperta a dor, repete-se a dolência
Do curso complicado e duro da existência.
Renascem os bens de outrora, as horas juvenis,
E felizes, que o tempo preservar não quis.
Os meus cantos de agora, estes não são amados
Por quanto os ouviam, outrora, deslumbrados;
Dissiparam-se os sons tão bons e tão amigos.
Já se perdem bem longe os seus ecos antigos.
Meus cânticos de hoje os quer a multidão,
Seu aplauso e clamor se ferem o coração.
Os que meus velhos cantos tanto admiraram
Perdidos pelo mundo enfim se dispersam.
Assalta-me a saudade em tudo o que passado,
Daquele mundo suave e espiritual, amado;
Paira ainda no ar, harmonioso, um canto,
Qual som de harpa eólia, as cordas vão vibrando,
Domina-se a emoção e não contenha o pranto
Meu rude coração logo se abranda, enquanto
A realidade atual se torna mais distante,
E o passado renasce, ardente, impressionante.
OBS: Tal dedicatória encontra-se na obra Fausto de Goethe
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