Prometa, Rosalia
-Prometa, Rosalia. –
ele insistiu.
- Prometo, Enrico. –
ela colocou as mãos para trás do corpo e cruzou os dedos.
- Mas com que moça
extravagante eu fui me casar. – o jovem patriarca beijou a moça enquanto
entrelaçava seus dedos fortes no cabelo escuro da moça.
Ele se casara com uma cantora de ópera e
continuaria casado com uma. Ela não iria deixar de cantar porque se casara. Nem
ao menos cogitara a possibilidade. Admirava muito seu marido, mas a música era
muito mais parte de si.
Por isso, sem hesitar mentira em sua promessa de não ir à óperas nunca mais. Não apenas iria, como ela mesma subiria ao palco e daria o melhor de si.
- Querido, espere-me
no quarto. Em breve estarei lá, mas antes preciso organizar as últimas coisas
da casa para que pela manhã tudo esteja nas mais perfeitas condições.
- Mostra-se uma
excelente esposa, minha Rosalia. Estarei lhe esperando. – acariciou o rosto
dela com afeto e foi para o quarto.
Primeiramente, a
moça fingiu limpar algumas coisas e depois conferiu se ele havia adormecido. Ao
constatar que sim, dirigiu-se à porta dos fundos, colocou sua capa e correu
para o teatro. La Traviata tinha que acontecer e não poderia acontecer sem ela.
A jovem italiana foi
recepcionada com muita euforia em seu camarim, e a arrumaram rapidamente.
Estava belíssima e por um momento desejou que seu marido pudesse vê-la assim.
Balançou sua cabeça para afastar o pensamento e focou-se em aquecer sua linda
voz de soprano. Por fim, subiu ao palco.
Como sempre, perdera
a noção de tempo, espaço. Perdera a noção de si. Despertou apenas ao ouvir os
aplausos finais que eram tão intensos que faziam seu corpo vibrar. As cenas e
canções que havia interpretado passaram-lhe pela mente e ela sorriu amplamente,
muito satisfeita. Os homens da plateia suspiravam com sua beleza e talento, as
mulheres almejavam ser como Rosalia. Mas seu olhar perdeu-se apenas no senhor
de belos olhos que aplaudia com o olhar rendido a ela. Seu esposo lhe prestigiara.
Ela o enganara, e
ele mais ainda. A vida deles era uma ópera, afinal.
0 comentários:
Postar um comentário