O Menino queDescobriu o Vento: Uma Abordagem Geográfica
O filme O Menino que Descobriu o Vento produzido pelo
diretor Chiwetel
Ejiofor no ano de 2019 é baseado em livro de mesmo nome escrito por
William Kamkwamba e Bryan Mealer. A história é real e baseada na vida do mesmo
William, que cresceu na vila de Wimbe, no Malaui. Por volta de 2001, uma série
de acontecimentos marca sua vida, que passam por questões familiares,
políticas, econômicas, culturais, de fome e de criação. Com a crise que se
estabelece não apenas em seu povoado como em todo país, William é obrigado a
deixar de frequentar a escola. Mesmo assim, ele resiste e com a ajuda de seus
primos e dos livros da biblioteca, tem uma ideia inventiva para solucionar o
problema da colheita: moinhos de vento para bombear água e irrigar os campos.
Procurei dividir o filme em seus principais momentos, evitando possíveis “spoilers”, mas abordando os pontos geográficos centrais que podem ser abordados em sala. Sendo assim, o filme é dividido nos seguintes momentos:
- Kufesa, o plantio – com a perda de um familiar, sua vida se reestrutura. O clima local quente e seco, marcado por ventos fortes e chuvas torrenciais, define a colheita local. Mesmo vendendo o Malaui grãos excedentes para Quênia e Moçambique, o Estado passa por uma crise econômica que nem o FMI e o Banco Mundial puderam prever.
- Kukula, o crescimento – a democracia é narrada como “madeira importada, apodrece rápido”, o que demonstra logo em seguida que a democracia é na verdade uma ditadura disfarçada, com ampla repressão local aos insatisfeitos. Neste momento, compreende-se melhor a organização do país, havendo além do presidente, chefes locais que se responsabilizam pelo seu povo.
- Kukola, a colheita – com a falta de chuva não há plantio que cresça, e os preços dos grãos crescem exorbitantemente.
- Njala, a fome – um dos personagens diz ser o fim do tempo dos livros para ser o tempo do arado. No entanto, se não há condições biológicas para tal, o arado é em vão.
- Mphepa, o vento – por fim, William consegue apoio geral, vista a falta de alternativa das pessoas e a partir da ciência dos livros, pôde-se desenvolver a técnica e reverter as condições. Sendo assim, o tempo dos livros pode ser também o tempo do arado.
O filme e o livro apresentam algumas
diferenças, possuindo o segundo mais riqueza de detalhes. Por exemplo, no
livro, é apresentado o fato de a fome ser quase um evento cíclico naquela
região do Malaui; além disso, William não recebe apoio além do dos primos até
que o primeiro moinho esteja pronto, servindo este apenas para energia elétrica
de sua casa. Apenas mais tarde ele consegue desenvolver sua tecnologia voltada
para o plantio, alem de poder aperfeiçoá-la conforme oportunidades de estudos
foram aparecendo em sua vida.
É interessante também notar que os momentos
se referem à natureza, ao homem e, portanto, às suas relações. Ainda assim, as
duas obras mostram perfeitamente que - diferentemente das sociedades ocidentais
altamente tecnificadas e afastadas do meio natural -, a aproximação cultural do
homem com a natureza permite que a técnica contribua ainda mais com essa
interação.