- "Pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
- Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.
- Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim.
- Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
- Outro nome que a instabilidade dos adultos lhe dava era o de "bem comportado", de "dócil". Dando assim um nome não ao que ele era, mas à necessidade variável dos momentos.
- Ali o amor, mais facilmente estável de um dia, não daria oportunidade a instabilidades de julgamentos.
- Já que tudo falhara, ele iria brincar de "não ser julgado": por um dia inteiro ele não seria nada, simplesmente não seria.
- Pela primeira vez sentiu-se atraído pelo imoderado: atração pelo extremo impossível. Numa palavra, pelo impossível. E pela primeira vez teve então amor pela paixão.
- E as máscaras? Eu tinha medo mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara.
- Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo me agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.
- E, como nas histórias que eu havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina.
- Desci até a rua e a li de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados.
- Na minha fome de sentir, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me [...] e de novo eu morria.
- E então, mulherzinha de oito anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.
- E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor?
- É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar o mundo que não é ele.
- Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho inocente.
- Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza?
- Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus.
- A esperança era meu pecado maior.
- Eu queria o seu bem, e em resposta ele me odiava. Contundida, eu me tornara o seu demônio e tormento.
- As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito.
- Era de se lamentar que tivesse caído em minhas mãos erradas a tarefa de salvá-lo pela tentação.
- Só Deus perdoaria o que eu era porque só Ele sabia do que me fizera e para o quê.
- Vida crua e cheia de prazeres: eu era uma adoradora. Aceitava a vastidão do que eu não conhecia e a ele me confiava toda.
- Suportando com desenvolta amargura as minhas pernas compridas e os sapatos sempre cambaios, humilhada por não ser uma flor.
- O jogo de torna-lo infeliz já me tomava demais.
- A verdade é que não me sobrava tempo para estudar. As alegrias me ocupavam, ficar atenta me tomava dias e dias.
- Havia a esperançosa ameaça do pecado, eu me ocupava com medo de esperar.
- Sem falar que estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim.
- Na minha pressa eu crescia sem saber para onde.
- Minha compostura quebrada como a de uma boneca partida.
- É que na falta de jeito de amá-lo e no gosto de persegui-lo, eu também o acossava com o olhar: a tudo que ele dizia eu respondia com um simples olhar direto, do qual ninguém em sã consciência poderia me acusar. Era um olhar que eu tornava bem límpido e angélico, muito aberto, como o da candidez olhando o crime. E conseguia sempre o mesmo resultado: com perturbação ele evitava meus olhos, começando a gaguejar. O que me enchia de um poder que me amaldiçoava.
- Irritava-me que ele obrigasse uma porcaria de criança a compreender um homem.
- Eu daria tudo o que era meu por nada, mas queria que tudo me fosse dado por nada.
- O coração imprudente pôs-se a bater alto demais sob o risco de acordar o gigantesco mundo que dormia.
- Bem devagar vi que o professor era muito grande e muito feio, e que ele era o homem de minha vida.
- O novo e grande medo. Pequena, sonâmbula, sozinha, diante daquilo a que minha fatal liberdade me levara.
- Eu era o único eu.
- Ele me olhava. E eu não soube como existir na frente de um homem.
- Vida nascendo era tão mais sangrento do que morrer. Morrer é ininterrupto.
- Ver a esperança me aterrorizava, ver a vida me embrulhava o estômago.
- Estavam pedindo demais de minha coragem só porque eu era corajosa, pediam minha força só porque eu era forte.
- Somente a consciência atormentada do pecado me redimia do vício.
- Tive que engolir como pude a ofensa que ele me fazia ao acreditar em mim.
- Destruía meu amor por ele e por mim. Minha salvação seria impossível: aquele homem era eu.
- Meu amargo ídolo que caíra ingenuamente nas artimanhas de uma criança confusa e sem candura, e que se deixava docilmente guiar pela minha diabólica inocência...
- Mas se eu não prestava, eu fora tudo o que aquele homem tivera naquele momento.
- Seria fácil demais querer o limpo; inalcançável pelo amor era o feio, amar o impuro era a nossa mais profunda nostalgia.
- Nunca saberei o que eu entendo. O que quer que eu tenha entendido no parque foi, com um choque de doçura, entendido pela minha ignorância.
- Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coube arrancar de seu coração a flecha farpada.
- Comecei a aprender a ser amada, suportando o sacrifício de não merecer.
- Sobreviver é a salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva à morte.
- Ela não sabe se explicar: "sei que o erro está em mim mesma"; ela chama de erro a sua vida.
- Está na sua condição não servir a si própria. Sendo, porém, o seu destino mais importante que ela.
- Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado.
- Embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é mais necessário dissimular.
- Poucos querem o amor, porque amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões.
- Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor.
- Ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto.
- É liberdade ou estou sendo mandada? Pois venho notando que tudo o que é erro meu tem sido aproveitado.
- Minha revolta é que para eles eu não sou nada, eu sou apenas preciosa: eles cuidam de mim segundo por segundo, com a mais absoluta falta de amor; sou apenas preciosa.
- É que me querem culpada e distraída, e não importa como.
- Mas durmo o sono dos justos por saber que minha vida fútil não atrapalha a marcha do grande tempo.
- Coitado dele, ele é meu.
- O tédio, aliás, fazia parte de uma vida de sentimentos honestos.
- Faltava-lhes o peso de um erro grave, que tantas vezes é o que abre por acaso uma porta.
- Tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que seu espírito.
- Voltara de seu repouso na tristeza.
- Ignorância tão vasta que nela caberia e se perderia toda a sabedoria do mundo.
- O ideal os sufocava, o tempo passava inútil, a urgência os chamavam - eles não sabiam para o que caminhavam, e o caminho os chamava.
- Cheia de impotente amor pela humanidade.
- Nada. Nada, e que não se exagere, fora apenas um instante de fraqueza e vacilação, nada mais que isso, não havia perigo.
- Para conhece-lo tenho que esperar que ele se deteriore, e só então ele estará ao menu alcance.
- O caminho lento aumenta sua coragem secreta.
- Inútil: toda a minha força está sendo usada para eu conseguir ser frágil.