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quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Resenha | As Alegrias da Maternidade - Buchi Emecheta



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 As Alegrias da Maternidade não é apenas um livro, mas uma experiência.

  Te proponho inicialmente a tirar as lentes ocidentais - e tantas vezes colonizadoras - e se abrir às possibilidades de uma cultura completamente diferente. Obviamente, é uma tarefa difícil, afinal, muitas vezes você vai se ver discordando de determinados pensamentos. Mas, surpreendentemente, ainda mais vezes você vai se ver pensando como os personagens e compreendendo suas ações, sentimentos e ideias.

  O livro fala sobre Nnu Ego, uma mulher respeitada em Ibuza por ser filha do grande chefe Agbadi e de Ona - a história desses dois inclusive é digna de deuses. Ela procura então se casar para realizar seu sonho: ser mãe. Essa questão é desenvolvida no livro em muitas instâncias: a nível de dever, de amor, de perda, de reparação, de esperanças, frustrações, e tantas mais.

  Em certo momento da história, Nnu Ego muda-se então para Lagos, ainda na Nigéria , uma cidade mais urbana e colonizada, onde tudo é diferente de sua realidade agrária, inclusive os homens. Discute-se então a hombridade de seu marido; as mudanças do papel da mulher além da cuidadora, mas também de provedora; as relações escalares do colonial, onde não mais se tem escravos ao pé da letra, mas relações que se equiparam; as consequências do ser mulher em contextos de dificuldade para o ser homem; as diferenças culturais do espaço agrário e do urbano; entre outros temas. Fica evidente assim o quanto o livro é riquíssimo em discussões que são passadas apenas através das vivências dos personagens.

  Outra possibilidade de análise é a relação de Nnu Ego com as outras esposas. Adaku, por exemplo, era ambiciosa,e em tantas partes do livro a detestei. E então percebi que, de certa forma, me identificava com ela. Ela era a esposa que queria mais, mais para si e para suas crianças, não suportava a vida simples de ser a esposa de alguém. Por muitas vezes, se não fosse a rivalidade, ela mostrou que seria uma boa amiga de Nnu Ego. Assim como a esposa mais velha que a aconselha, ou a mais nova, que se sente filha dela. Há uma sororidade potencial que acaba não se desenvolvendo pela importância dada à assuntos familiares.

  Assuntos familiares esses que pautam a identidade dessas pessoas. O filho mais velho assume o protagonismo, e as funções sociais de cada um se mistura com ares de união. Há uma forte relação de responsabilidade um pelo outro.

  Outro ponto de destaque é para a religiosidade e a figura do chi, que aparece como uma divindade que rege o ser e, ao mesmo tempo que se mistura a ele, é uma individualidade. Isto traz à tona a importância da ancestralidade e o quanto há uma proximidade entre o Divino e a própria vida da pessoa.
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  Os momentos finais são também muito importantes para demonstrar a evolução do filtro do olhar do leitor, uma vez que julgamos mais uma vez aqueles personagens, mas sob uma nova perspectiva: a perspectiva de quem viu todas as suas vidas e agora os compreende.

  As Alegrias da Maternidade se mostra uma obra de arte produzida pela escritora Buchi Emecheta, que muito bem soube trabalhar com a ironia do título. É um livro fluido, ainda que com muitos momentos difíceis de ler. E é imergindo na história que saímos do nosso "mais do mesmo" para ver a vida sob uma outra ótica cultural. Alegramo-nos com suas alegrias, mas também frustamo-nos com suas frustrações.

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