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sexta-feira, 3 de julho de 2015

Resenha de O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote da Mancha





Essa imagem não me pertence. :)

  Li o volume um de O Engenhoso Fidalgo D. Quixote da Mancha, e sem conseguir aguardar nem duas horas, peguei o segundo volume para ler. D. Quixote ficou pirado de tanto ler suas histórias e ainda leva Sancho Pança com ele. E como se não bastasse, no meio do livro nos leva junto. É incrivelmente cômico a forma como ele enxerga o mundo e como reage às mais inusitadas situações (muitas vezes provocadas... por ele mesmo). E assim como nós nos deixamos levar pelas "verdades" de Quixote, os demais personagens do livro também se deixam e começam a contar mentiras para agradá-lo.
   Não é um livro muito simples de ler, já que é necessário bastante atenção para compreender os joguetes de palavras e ler as notas. Mas os momentos cômicos são impagáveis e simplesmente fluem muito bem.
  Essa edição linda da Clássicos abril tem as páginas amareladas muito confortáveis de ler e uma capa em tecido maravilhosa. Uma pena que pertença à biblioteca da escola e não a mim.
  Enfim... Na minha opinião, o primeiro volume é melhor que o segundo, porque este último conta muitas histórias - que são até bem interessantes, mas que quase parecem esquecer de D. Quixote. Apesar disso, fiquei impressionada com a profundidade que Cervantes dá a todos os personagens, mesmo aqueles que aparecem em cerca de dois ou três capítulos.
  É uma leitura riquíssima, que vale muito a pena e que tem todos os motivos para se rum clássico universal.
 
  
 
DOM QUIXOTE

 

  Embora eu tenha adorado as partes cômicas, inseri apenas uma delas (fala icônica de Sancho) porque se eu colocasse-as aqui, ficariam sem nexo a partir do momento em que estão inseridas em determinado contexto. Apesar disso, seguem alguns de meus trechos favoritos dos dois volumes:

- Em suma, ele engolfou-se tanto em sua leitura que lendo passava as noites em claro, e os dias em turvo.

- Encheu-se-lhe a fantasia de tudo aquilo que lia nos livros, tanto de encantamentos como de pelejas, batalhas, duelos, ferimentos, galanteios, amores, de tal modo na imaginação que era verdade toda aquela máquina daquelas sonhadas invenções que lia, que para ele não havia outra história mais certa no mundo.



- Bem poderia vossa mercê mandar queimá-los, como aos outros, porque não faltaria muito para que, tendo-se curado meu senhor tio da doença cavalheiresca, lendo estes, lhe viesse o desejo de tornar-se pastor e andar pelos bosques e prados cantando e tangendo, e, o que seria pior, tornar-se poetas, o que, pelo que dizem é doença incurável e contagiosa.

- Melhor fala de Dom Quixote: "As donzelas e a honestidade andavam, como tenho dito, por todas as partes, sozinhas e solitárias, sem temor de que a alheia luxúria e lascivo intento as infamassem, e sua perdição nascia de seu gosto e vontade própria! E agora, nestes nossos detestáveis séculos, não está segura nenhuma."

- Observem com cuidado o nível extraordinário de Marcela:

  * Eu sei, com a natural razão que Deus me deu, que tudo o que é formoso é amável; mas não consigo compreender que, em razão de ser amado, esteja obrigado o que é amado por formoso a amar a quem o ama.

  * A honra e as virtudes são adornos da alma, sem as quais o corpo, ainda que o seja, não há de parecer formoso.

  * E, assim como a víbora não merece ser inculpada da peçonha que tem, posto que com ela mata, por ter-lhe dado a natureza, tampouco eu mereço ser censurada por ser formosa.

  * Eu nasci livre, e para poder viver livre escolhi a solidão doa campos; as árvores destas montanhas são a minha companhia, as claras águas destes riachos os meus espelhos; às árvores e às águas comunico meus pensamentos e formosura.

  * Os que enamorei pela vista desenganei com as palavras.

  * Aquele que me chama de fera e basilisco deixe-me como a coisa prejudicial e má; e aquele que me chama ingrata não me sirva; aquele que e chama mal-agradecida me desconheça; aquele que me chama cruel não me siga; porque esta fera, este basilisco, esta ingrata, esta cruel e esta mal agradecida não os buscará, servirá, conhecerá nem seguirá de maneira alguma.

  * O céu até agora não quis que eu ame por destino, e vão é o pensar que tenho de amar por escolha.


gustave douret - Pesquisa Google
- Todas essas tempestades que nos  sucedem são sinais de que logo há de viver a bonança e hão de sair-nos bem as coisas, porque não é possível que o mal nem o bem sejam duradouros, e daí se segue que, havendo durado muito o mal, o bem já está perto.

- Fala mais icônica do Sacho: "Eu cá não o digo nem penso. Eles lá que saibam as linhas com que se cosem, pouco se me dá: se forem amancebados ou não, a Deus terão prestado contas. Eu sigo o meu caminho, não sei de nada, não sou amigo de me meter na vida alheia, pois quem mexe em vespeiro, picado sairá. Tanto mais que nu nasci, nu estou: não perco nem ganho. Mas se o eram que me importa a mim? E nem tudo o que reluz é ouro. Mas quem pode pôr trovas ao vento? Tanto mais que até de Deus murmuraram."

- E ainda assim tão de quando em quando, que ouso jurar com verdade de que, nos doze anos que há que a amo mais que à luz destes olhos que a terra há de comer, não a vi mais que quatro vezes, e pode ser até que nestas quatro vezes ela não tenha visto nenhum olhar meu.

- Todas essas coisas resolvia em minha fantasia, e consolava-me sem ter consolo, fingindo umas remotas e pálidas esperanças, para aliviar a vida que já aborreço.

- Não vale para ti este dito, porque o amor como ouvi dizer, às vezes voa e outras anda: com este corre e com aquele vai devagar; a uns entibia e a outros abrasa;  a uns fere e a outros mata; num ponto começa a carreira de seus desejos e nesse mesmo ponto a termina e conclui; de manhã costuma fazer o cerco de uma fortaleza e de noite a tem rendida, porque não há força que o resista.

- Nunca na vida lhe disse palavra e, ainda assim, amo-o de maneira que não poderei viver sem ele.

- Talvez com não vê-lo e com a grã distância do caminho que temos por percorrer que diminuísse o padecimento que agora tenho; embora eu possa dizer que este remédio que imagino me há de aproveitar bem pouco.

- Os montes criam letrados e as cabanas de pastores encerram filósofos.

- Este a maldiz e a chama caprichosa, volúvel e desonesta, aquele a condena por fácil e ligeira; tal a absolve e perdoa, e tal a julga e condena; um celebra por sua formosura, outro abomina sua índole, e, enfim, todos a infamam e todos a adoram, e de todos chega a tanto a loucura; que há quem se lamente e sinta a raivosa doença dos ciúmes; que ela nunca deu a ninguém, porque, como já tenho dito, antes se soube de seu pecado que de seu desejo.

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