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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Fausto e Werther



  Não disse nem que era uma resenha porque não tenho cacife nenhum para resenhar Goethe.
  Criei interesse no autor por diversos meios. Seja por ouvir falar muito, por professores influentes terem recomendado, ou mesmo por meus personagens favoritos já o terem citado em algum momento. Então, quando vi esse livro na biblioteca não pensei duas vezes em pegá-lo emprestado.
  Li essa edição linda de capa dura, páginas amareladas, marcador de fitinha e fotografias na introdução eu contribuíram para criar o clima perfeito de leitura. Aliás, sempre que acho algum livro dessa coleção da Abril na biblioteca corro logo para ele, porque além da qualidade do objeto-livro, o conteúdo-livro também tende a ser espetacular.
  Criei um carinho tão grande por esse livro que sofri até para devolver, e sempre que passo na prateleira onde ele está, folheio ele para matar as saudades.



Fausto



  Finalmente, começando a falar sobre o conteúdo em si, posso introduzir minhas impressões sobre ele com uma pergunta: Que livro é este, Senhor?!
  Acredito que nesta época, Goethe estava muito inspirado pela filosofia de seu amigo Schiller, porque o que você encontra ali é precioso. É uma leitura riquíssima  pronta para adaptação teatral e, ainda, toda escrita em formato poesia. Impossível não imaginar como uma ópera.
  Resumindo a história: Fausto é um homem que desenvolveu absurdamente sua faculdade racional e sabe todas as ciências que poderia saber a seu tempo, mas que mesmo assim se sente infeliz. Decide então fazer um pacto com o demônio Mefistófeles, que o "ajuda" a encontrar a felicidade no que há de material da vida. Conhece e se encanta então por Margarida, uma moça tão pura que nem mesmo Mefistófeles tem poder sobre ela. Com sua ingenuidade, a menina acaba por se apaixonar por Fausto e uma série de infortúnios começa a acontecer em sua vida.
  Os personagens são perfeitamente construídos. Fausto não entende nada de sua faculdade emocional e é completamente manipulado por Mefistófeles. Já este último é tão descarado que eu não sabia se ria com ele ou se o odiava. E Margarida é a forma viva em pessoa, a própria representação da beleza. É uma criatura tão perfeita que tudo o que o leitor consegue é amá-la e admirá-la, é simplesmente a melhor personagem do livro. Ver a vida dela e seu equilíbrio caindo aos pedaços é devastador demais, de fazer chorar (principalmente no capítulo da catedral e da prisão).
  Percebe-se então o quanto o livro é envolvente. É uma obra tão maravilhosa que nem parece ter sido escrita por mãos humanas. Tornou-se, sem sombra de dúvidas, um de meus livros favoritos.



  Alguns trechos:
 
- Fausto:
 
"E chego ao fim ignorante em tudo!
Coração a ferver! Para que tanto estudo!"
 
"E tu, oh, lua cheia, que pelo céu vagueias,
Pela última vez o meu sofrer franqueias!
Quantas vezes me vês aqui, à meia-noite,
Em vigília a sentir do sofrimento o açoite!
Debruçado a estudar dos livros a escritura,
És minha companheira em horas de amargura."
 
"Quem me dera voar para as altas montanhas
Como a luz que tu expeles pura das entranhas,
Dos paramos sentir  tantas novas virtudes,
Liberto da ciência, essa pesada cruz,
Nos teus vastos domínios me banhar de luz!"
 
"Ah! Como é difícil às asas de nossa alma
Aliarem-se as asas da matéria!"
 
"Assim! O sentimento é tudo para mim
O nome é apenas som, esvai-se em seus vapores."
 
 
- Margarida:
 
"De que serve a beleza e tanta juventude,
É tudo muito lindo e tem a sua virtude,
Mas passa e não desperta ao menos atenção!"
 
"Oh Deus! mas que homem estranho!
Tudo sabe e tudo alcança!
Em sua presença me acanho
E sempre respondo 'sim',
Sou pobre e ingênua criança
Não sei o que vê em mim."
 
 
 
 

Werther

  Também conhecido como "Os Sofrimentos do Jovem Werther", esse livro é tão diferente do anterior que me parecia até de outro autor. Aliás, por ser escrito em formato de cartas, pareceu-me até que o autor era o próprio Werther de tão profundas que eram suas reflexões. É dito até mesmo que foi gerada uma onda de suicídios depois do lançamento deste livro, pois que muitos se identificaram com tais pensamentos.
  É interessante observar o quanto o personagem sai de um viajante feliz para um sofredor apaixonado. Mesmo sendo avisado, o jovem se apaixona por Carlota, moça que já estava de casamento marcado. Ela é uma criatura adorável, mas o apego do leitor a ela nem se compara com o de Margarida, talvez porque a história é contada em primeira pessoa e o aprofundamento na personagem não é tão intenso.
  Logo abaixo, na mesma organização de sempre, é possível analisar algumas reflexões do personagem a partir de trechos retirados do livro. 
 
 
- "Que é o homem, para ousar lamentar-se a respeito de si mesmo?"
 
- "Os homens sofreriam menos se não se aplicassem tanto a invocar os males idos e vividos, em vez de esforçar-se por tornar suportável um presente medíocre."
 
- "Sou tão feliz, meu amigo, e de tal modo mergulhado no tranquilo sentimento da minha própria existência, que esqueci a minha arte. Neste momento, ser-me-ia impossível desenhar a coisa mais simples, e, no entanto, nunca fui tão grande pintor."
 
- "Como a espécie humana é uniforme! A maioria sofre quase todo o seu tempo, apenas para poder viver, e os poucos lazeres que lhe restam são de tal modo cheios de preocupações, que ela procura todos os meios de aliviá-las."
 
- "Sinto-me muito bem nesse meio, contanto que não me lembre de um mundo de aspirações adormecidas no mais íntimo do meu ser, entorpecendo-se pela inação, e que eu preciso ocultar com todo o cuidado."
 
- "Afora essas pessoas, acho-me envolvido por algumas criaturas caricatas, nas quais tudo me é insuportável, principalmente suas demonstrações de amizade."
 
- "A vida humana não passa de um sonho. Mais de uma pessoa já pensou isso. Pois essa impressão também me acompanha por toda parte."
 
- "Sinto-me contente, feliz; serei, portanto, um mau narrador."
 
- "Não há nada no mundo que me interesse tanto como as crianças. Quando as observo, noto nesses pequenos seres o germe de todas as virtudes, de todas as faculdades que um dia lhe serão tão necessárias: na sua teimosia entrevejo a futura constância e firmeza de caráter; nas suas garotices o bom humor que lhes fará vencer facilmente os perigos deste mundo. E tudo isso de modo tão puro, tão incontaminado!"
 
-  "Por que é que os homens não podem falar de uma coisa sem logo declarar: 'Isto é insensato, aquilo é razoável, aqueloutro é bom, isso aí é mau'? De que servem todas essas palavras?"
 
- "Eu já sabia tudo quanto sei agora: que não posso alimentar qualquer pretensão a respeito dela, e não tinha nenhuma... pelo menos até o ponto em que é possível não desejar nada em presença de tantas seduções. E, no entanto, o imbecil que eu me tornei arregala os olhos porque o outro chegou para arrebatar a sua bem-amada!"
 
- "Estive a pinto de estourar porque não há argumento que tanto me faça perder a cabeça como um insignificante lugar-comum que me citam no momento em que falo com toda a alma."
 
- "Minhas faculdades perderam o equilíbrio, dando lugar a um misto de indolência o equilíbrio, dando lugar a um misto de indolência e agitação. Não posso ficar desocupado e, no entanto, nada  posso fazer. Não tenho mais imaginação, nem sentimento da natureza, e os livros só me inspiram tédio. Tudo nos falta quando estamos em falta conosco mesmo!"
 
- "Não há tesouro compassível à paz de espírito e a estar a gente satisfeito consigo próprio."
 
- "Ah! o que eu sei; todos podem saber; meu coração, porém, só eu, mais ninguém pode possuí-lo."
 
- "Tenho medo de mim mesmo! Meu amor por ela não é o mais fraternal, o mais santo, o mais puro dos amores? Sentiu minha alma um desejo culpável?"

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